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Fabiano dos Santos Piúba: O ato político da vacina
Opinião

Fabiano dos Santos Piúba: O ato político da vacina

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Fabiano dos Santos Piúba
Gestor cultural, poeta, historiador, doutor em Educação e secretário da Cultura do Estado do Ceará
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Fabiano dos Santos Piúba Gestor cultural, poeta, historiador, doutor em Educação e secretário da Cultura do Estado do Ceará

Tomei a vacina, a primeira dose. Faço 53 anos em julho e recebi uma mensagem com o dia, a hora e o local. Fui com minha esposa já vacinada que bateu a fotografia.

Mas minha vontade era de ter visto uma foto dessas com o professor Gilmar de Carvalho, que não teve tempo de tomar a vacina e nos deixou em função das complicações da Covid-19. O Gilmar foi acometido por esse vírus, semanas antes de iniciar a vacinação para pessoas de sua faixa etária, exercendo seu direito.

Gilmar poderia estar agora conosco, confabulando e desenvolvendo projetos em prol do conhecimento e da cultura cearense.

Já estamos beirando a 500 mil pessoas que tiveram suas vidas ceifadas. Não são números, são seres que tiveram as histórias interrompidas.

Diante desse cenário, o mundo é conhecedor da responsabilidade do governo federal no agravamento do quadro de casos e óbitos no Brasil, sem contar que apenas 11,4% da população tomou a segunda dose até agora.

Optou-se pelo negacionismo científico. Entre reconhecer a centralidade prioritária na aquisição e produção de vacinas e nas medidas de distanciamento social para o enfrentamento da pandemia, preferiu-se negar os fatos e fazer cabo de guerra cultural numa insistência insana por um tratamento precoce ineficaz.

Então, tomar a vacina virou um misto de esperança e de frustração, de conquista e de revolta, de satisfação e de vergonha, misturando em um único ato, sentimentos tão opostos.

Como comemorar uma conquista individual? Vacinação não é uma questão de escolha pessoal. Você se vacina pensando no sentido comunitário e solidário de seu ato.

Vacinação é uma questão coletiva de saúde pública. Trata-se de um bem comum e social. Por isso que tanta gente leva seu cartaz com "Viva o SUS!". Essa frase tão poderosa é uma defesa reta pelo direito básico à saúde pública.

Tomar a vacina virou um ato político para muita gente. No meu caso, vesti minha camisa com letras garrafais perguntando "Quem mandou matar Marielle?", segurando um cartaz feito à mão com três mensagens: "Viva o SUS", "Vacina para todo mundo" e "Fora Bolsonaro". n

 

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