Já sabemos que a eleição presidencial de 2022 será a mais longa de que teremos notícia na história da redemocratização pós-1988.
Ela se iniciou tão logo Jair Bolsonaro saiu vitorioso em um processo eleitoral permeado de sombras - sendo a principal delas a impugnação da candidatura de seu principal adversário em um contexto pra lá de questionável.
Já se tornou um lugar comum afirmar que Bolsonaro nunca saiu do palanque e, desde que o STF reabilitou seu principal adversário à vida política, esse palanque se tornou mais ruidoso e performático.
A volta de Lula tornou evidente que teremos em 2022 uma possível reedição da polarização de 2018 entre bolsonarismo e lulismo, por isso a defesa de uma "terceira via" é encampada com mais ênfase por lideranças e partidos.
O centro investe na busca ingrata por um nome que esteja à altura da tarefa de superar nas urnas e na alma dos brasileiros as duas principais lideranças carismáticas das últimas décadas.
Uma tarefa quase impossível, que nem o mais habilidoso orador ou bem sucedido animador de auditório parece capaz de realizar.
Para além do fator carisma, seria preciso superar também outro obstáculo importante: a habilidade política dos dois protagonistas da política nacional hoje.
Chamo atenção especial para a inteligência estratégica de Lula, que nas últimas semanas deu boas provas de que trabalha na costura de uma aliança forte o bastante para lhe garantir o acesso ao segundo turno.
Tais provas deixam rastros nos movimentos de migração partidária de algumas lideranças proeminentes.
Começo por Flávio Dino, governador do Maranhão, que saiu do PCdoB após décadas de filiação. Dino deve fortalecer os quadros do PSB, partido que também ganhou Marcelo Freixo do Psol.
A justificativa dos dois políticos foi extremamente compreensível: pragmatismo. Afinal de contas, ambos reconhecem que é preciso investir em tática política e estratégia em favor de uma grande aliança, que Dino chamou poeticamente de Frente da Esperança.
Dino e Freixo encontrariam dificuldades em seus partidos de origem: a cláusula de barreira ameaça inviabilizar o PCdoB e o rigor ideológico do Psol impede uma aliança partidária fora do campo da esquerda.
Ao que tudo indica, o PSB embarcará no apoio à candidatura de Lula, repetindo uma aliança que, em 2010, tirou Ciro Gomes do jogo e ajudou a eleger Dilma Rousseff.
Outra movimentação é especial: a de Rodrigo Maia, que acaba de ser expulso do Democratas. Maia tem acenado enfaticamente ao ex-presidente Lula e já afirmou que, hoje, "nenhum nome do centro liberal tem musculatura para vencer sozinho Lula ou Bolsonaro".
Rodrigo Maia e Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, embarcam no PSD de Gilberto Kassab que, embora declare o desejo de candidatura majoritária no primeiro turno, dá indícios importantes de que encamparia o retorno de Lula ao Planalto, apoiando-o no segundo turno.
São movimentações menos ruidosas que as lives e as motociatas de Bolsonaro, mas absolutamente fundamentais para qualquer sucesso eleitoral em uma disputa que deve tirar nossos nervos no ano que vem. O futuro presidente do TSE, ministro Edson Fachin, que o diga. n