Acometida pela covid-19 saio em busca de atendimento de emergência em hospital privado de Fortaleza.
Deparo-me, pois, com um profissional da saúde que afirma: "- Volte para casa e beba muita água. Não existe remédio para Covid. Queria ter uma receita milagrosa aqui para lhe dar, mas não tenho.
Entretanto, mesmo frágil respondo: - Sim, doutor, sei que não existe um remédio certo, cada caso é um caso, estou atrás de algo que possa amenizar o sofrimento. O doutor, por sua vez, insiste em dizer que não há nada a fazer e acrescenta: - Compre um oximeter desse (Ele mostra um modelo que tinha em mãos), observe sua saturação e caso ela baixe venha se internar e aí é outra história".
Tenho um profundo respeito pelos profissionais da saúde por vivenciarem no cotidiano a luta para combater essa pandemia que já vitimou milhões de pessoas e sofrem o descaso do governo federal por insistir em negá-la.
No entanto, tal atitude desse médico mostra uma certa arrogância: - Eu sou o doutor, possuo o saber e já disse que não existe remédio.
O princípio do zelo com o outro na medicina é fundamental, pois "lido com gente e não com coisas" e, portanto, busquei um outro atendimento que pudesse ser melhor acolhida e resultasse em minha melhora significativa, sem esperar a saturação baixar para se internar, como sugeriu o médico inicial.
Existe uma cultura colonial que alimenta a mente de alguns doutores porque acreditam que são detentores do conhecimento e, ao paciente, cabe somente aceitar as suas orientações. Não obstante, não compartilho dessa concepção.
À medida que um médico não escuta o paciente, não o acolhe em seus medos e angústias, contribui para um atendimento desumanizado.
O estresse na área é grande, resultante de precárias condições de trabalho e baixos salários, mas justifica a desumanização com o paciente?!
Apesar dos desafios do exercício da medicina nesses dias, é preciso resistir à desumanização para não esquecermos da nossa condição de gente.
Urge, enfim, um atendimento humanizado em tempos de Covid, visto que "não somos máquinas, homens é o que somos". n