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Rosemberg Cariry: "Perder alguém", na música e no mundo em pandemia
Opinião

Rosemberg Cariry: "Perder alguém", na música e no mundo em pandemia

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Rosemberg Cariry, cineasta e escritor (Foto: Deísa Garcêz/Especial para O POVO)
Foto: Deísa Garcêz/Especial para O POVO Rosemberg Cariry, cineasta e escritor

Rosemberg Cariry
Rosemberg Cariry (Foto: Deísa Garcêz/Especial para O Povo)

A canção "Perder Alguém", do compositor e cantor Tiago Araripe, fala da perda de pessoas queridas e nos lembra que perder alguém é um acontecimento doloroso, pois vai muito além da simples falta.

A canção diz: "Perder alguém/ não é assim como perder o trem/ perder o voo para mais além/perder alguma coisa que se tem/ um bilhete premiado, compras do armazém".

De forma muito sensível, afirma: "Perder alguém/ alguém de perto, que a gente quer bem/ é mergulhar na dor de ficar sem/ uma presença que é parte de nós/ aquela voz que agora já não vem".

Numa circunstância de amplo alcance e muito dolorosa, vivemos um tempo de pandemia e medo, onde estamos sempre a "perder alguém" para sempre (o amor da nossa vida, o parente, o amigo, a pessoa que admiramos, o outro que nos espelha e humaniza); uma ruptura brusca que anuncia o "nunca mais", a finitude e a fragilidade da nossa condição humana, embora em nós permaneça a memória, o gesto, a amizade, o amor, a voz que ainda se faz ouvir e a canção que em nossa alma nunca cala.

Afinal, os outros nos habitam, mesmo depois que partem para o "mais além".

Se perder alguém por morte natural dói tanto, o que dizer de perder alguém por descaso e impulso da necropolítica governamental?

Chegamos a 500 mil mortos pela Covid 19 e poderemos chegar a um milhão ou mais, se algo não for feito, urgentemente, para estancar esse processo genocida.

Tal número de mortos traz uma dor tão grande, que deveria extrapolar o que a alma humana é capaz de suportar. Por outro lado, se naturalizarmos esse horror, será difícil a afirmação da nossa humanidade.

Em tempos tão difíceis, de luta, de luto e de dor, a arte surge como uma força capaz de nos guiar e, na nossa queda livre no abismo, nos sustentar, na esperança do possível.

A arte nos oferece um alfabeto de luzes e de símbolos que nos permite ler no escuro e, muitas vezes, nos aponta a saída do labirinto da angústia em que estamos mergulhados.

A afirmação da nossa dignidade e da nossa humanidade passa pela resistência e pela luta contra a banalização do mal.

 

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