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Francisco Luciano Teixeira Filho: A infâmia militar no Brasil dos golpes
Opinião

Francisco Luciano Teixeira Filho: A infâmia militar no Brasil dos golpes

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Francisco Luciano Teixeira, professor de Filosofia (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Francisco Luciano Teixeira, professor de Filosofia

O Exército do Brasil não tem muitas glórias diante das quais se orgulhar. Muito pelo contrário, podemos dizer que há um conjunto considerável de infâmias das quais ele deveria se envergonhar.

Evidentemente, não se faz coesão de tropas com vergonhas históricas, então foi necessário estabelecer alguns mitos pelos quais se sustenta um certo sentimento de honra de pertencimento.

Vejamos a relação do Exército de Duque de Caxias com a política. De Deodoro até Figueiredo, a tutela militar da República foi uma constante histórica. Realmente, nunca fomos verdadeiramente democráticos, se considerarmos todas as interferências militares, incluindo o famoso golpe "do bem" do Marechal Lott.

Nas últimas décadas, porém, desde a falência da última grande desonra militar, com os sucessivos golpes pós-1964, o Exército se recolheu na caserna, seu devido lugar.

Todavia, desde a ameaça explícita do General Villas Bôas, então comandante da Força, ao Supremo Tribunal Federal, em 2018, que resultou em interferência decisiva na eleição daquele ano, parece que os fardados de verde-oliva estão testando os próprios limites da legalidade e, cada vez mais, tentando voltar a tutelar a Democracia brasileira.

O último passo fora do quartel foi a participação ilegal do General Pazuello em manifestação de caráter golpista, ao lado do capitão reformado e Presidente da República, Jair Bolsonaro. Apesar da primeira reação inflamada, o comandante da arma pública, General Oliveira, resolveu deixar por isso.

Penso, porém, que o Exército, ao recusar punição ao seu General da ativa, autoriza, por força do exemplo, a desobediência e, portanto, se coloca como ameaça ao Estado Democrático de Direito.

Hoje, enfiado num governo contestado em diversas esferas, imbricado na desastrosa condução da pandemia e ameaçando, mais uma vez, romper as linhas de contenção das Forças Armadas, o Exército só tem uma opção: declarar publicamente a sua submissão total e irrestrita aos poderes civis, pedir desculpas e retornar, em silêncio, aos quartéis.

Não fazer isso indica aceitar a opção do golpe, que significaria a implosão do Brasil e a deslegitimação social das Forças Armadas. n

 

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