No longínquo ano de 1608, o padre Francisco Pinto foi morto por índios Tarairiús, em Ibiapaba. O infeliz padre enfrentou o martírio com coragem e abnegação exemplares, leal à fé católica até o derradeiro fim.
Quatrocentos anos depois, eu soube, para minha grande surpresa, da controvérsia de que "bolsonaristas" haviam "agredido", "intimidado", "ameaçado" e "hostilizado" o padre Lino Allegri, em missa ocorrida na Paróquia da Paz, em Fortaleza.
Como historiador e pesquisador, me interessei pelo assunto e fui atrás de saber mais a respeito desses Tarairiús modernos e de suas razões, algo que praticamente ninguém se importou em fazer.
Os relatos quase uniformes na imprensa sobre o ocorrido, e a vitimização teatral do padre Lino alimentaram um ceticismo inato em mim.
Para minha grande surpresa, os "agressores" não eram índios ferozes, e nem bolsonaristas truculentos.
Era somente um grupo de seis senhoras e um senhor aposentado. As "agressões" foram apenas reclamações, no caso delas, e protestos em viva-voz, no caso dele.
Mas o que causou a celeuma, afinal? O uso do púlpito como palanque político pelo padre Lino.
Os fiéis não agiram por razões político-partidárias, como tem sido propagado erroneamente, mas para evitar que até nas igrejas católicas haja politização.
Não se trata de ser de direita ou de esquerda, mas de não misturar religião com política. E eles têm razão, convenhamos. Até dentro de igreja teremos divisão e discórdia?
O papel do padre Lino é de liderar, congregar e apaziguar. Ele fez e tem feito o contrário (talvez sem intenção, assim espero), ao promover a cizânia divulgando uma versão deturpada do ocorrido e das motivações das pessoas envolvidas.
Convenceu a imprensa e até o governador Camilo Santana, tornando uma situação facilmente resolvível com diálogo numa enorme e desnecessária controvérsia.
Em nenhum momento aqueles fiéis ameaçaram o padre Lino, ou o intimidaram. Reclamações, ainda que exaltadas, não podem ser confundidas com violência.
Os brasileiros estão cansados da desunião causada pela política. Espero que o padre Lino tenha a humildade de reconhecer os próprios erros e que tenhamos mais compaixão e tolerância.
Faço o mesmo apelo ao governador, que concordará que o bom senso e o diálogo são o melhor caminho. Deixemos a política longe do altar, que pertence a Deus. Afinal, políticos passam, mas o Brasil permanece.