Não é sobre o olhar de hoje acerca da cena do passado, mas sobre o amanhã que se desenhou ontem e que grita o desespero de agora.
Todos revivemos as lutas nossas e de nossos antepassados quando nos deparamos com o caótico e inimaginável massacre aos moldes grotescos de eras atrás.
O Afeganistão, que ainda não chegou ao mundo moderno, recebe a marca de anti-civilização, especialmente pelas práticas genocidas, belicosas e misóginas do grupo Talibã.
Uma sociedade que fica no passado e lembra os bárbaros com suas intempestivas tradições tiranas.
Mas como a filosofia ou a antropologia podem explicar que. nos dias de hoje, ainda presenciemos um padrão ancestral tão retrógrado?
Como homens que vêm ao mundo no seio de uma mãe podem negar suas raízes e se transformar em instrumentos monstruosos e destruidores de sua própria organização social? Estaríamos mesmo vivendo uma turbulência profética? Encontramo-nos no fim dos tempos ou no começo de uma nova era?
O sabor da crueldade alocado pela raça humana já rendeu cenas épicas, relatos históricos e transformações de dimensões mundiais.
Mas o que isto tem de importância quando se enxerga cada ser humano que teme, geme e morre sem ter escolhido fazer parte desta história?
A que serve a globalização, se não consegue resgatar um contingente de pessoas presas ao passado, ideologias e costumes distantes do valor, simples e complexo, que denominamos de paz?
Na era dos algoritmos, plataformas e conexões, como esta geração digital e o comércio internacional podem se valer do poderio econômico e da persuasão conceitual para salvar vidas?
É neste olhar humano que encontramos nossa humanidade, que não é humanitária em função do ambiente hostil e sangrento estabelecido, mas é espiritual ao que recorremos a Deus suplicando e clamando diante de nossa impotência.
Afinal, só sabemos olhar. E no olhar enxergamos que estamos falidos por nossa incapacidade de proteger estes irmãos, sobretudo irmãs, mulheres, meninas, que se foram e se vão dos seus sonhos e ideais de vida, que não foi escolhida para ser vivida desta forma.
Tristeza!
* Sharbat Gula é uma refugiada afegã fotografada pelo norte-americano Steve McCurry em 1984, em um campo de refugiados no Paquistão. A imagem ficou famosa após publicação na revista National Geographic. A foto está exposta no acervo do Museu da Fotografia Fortaleza.