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Monalisa Torres: Por que precisamos de uma terceira via?
Opinião

Monalisa Torres: Por que precisamos de uma terceira via?

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A política é constituída por dois componentes fundamentais: o componente afetivo e o racional. Ambos orientam os embates políticos e muito embora sejam opostos, não são excludentes.

No Brasil, desde 2016, o componente afetivo tem predominado e organizado o campo das disputas eleitorais e alimentado uma polarização radicalizada que tem favorecido candidaturas populistas.

Segundo o analista político Antônio Lavareda, desde 2016, as eleições no Brasil estão inseridas num "ciclo de eleições críticas", resultado de aguda crise econômica e política no país que provocou desmoronamento do sistema partidário eleitoral.

Seu ápice foi o pleito de 2018, marcado por uma forte polarização e pelo deslocamento do PSDB como polo antagônico das disputas presidenciais à direita, levando à eleição de Jair Messias Bolsonaro.

Ao que tudo indica, o caráter de forte polarização marcará também as eleições de 2022. É o que têm apontado as últimas pesquisas de intenção de votos que colocam Lula e Bolsonaro no 2º turno. Outros nomes ficam abaixo dos dois dígitos.

A questão que levanto é que a forte polarização Lula-Bolsonaro tem reforçado o componente afetivo como orientador dos embates políticos e dificultado o diálogo e acordos que viabilizem uma alternativa dentro do campo democrático.

O que quero dizer é que nessa conjuntura polarizada, o petismo alimenta o bolsonarismo, e vice-versa, como uma espécie de "antagonista perfeito". Do ponto de vista discursivo, ambos buscam capturar o eleitorado a partir do que se rejeita no adversário (visto, quase sempre, como um inimigo a se bater), mobilizando, para tanto, afetos negativos.

Por meio dessa lógica, qualquer alternativa que não esteja em um desses polos é ignorada visto que o debate público limita-se "ao que não se quer". Perde-se, portanto, a possibilidade de discutir o que "o eleitor deseja" e quais projetos estão sendo propostos para o futuro do país. Se seguirmos esse roteiro, o risco que corremos é de o de reeditarmos 2018.

Nesse sentido, são válidos os esforços de construção de uma terceira via que, furando a bolha da polarização radicalizada, consolide um projeto político como alternativa dentro do campo democrático. n

 

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Monalisa Torres

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