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Rodrigo Prando: Bolsonaro é do Centrão?
Opinião

Rodrigo Prando: Bolsonaro é do Centrão?

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Há alguns dias, respondendo às críticas da ida de Ciro Nogueira (PP), dileto representante do Centrão, ao núcleo do Governo, o Presidente Jair Bolsonaro afirmou: "Eu sou o Centrão". Quais as implicações desta movimentação para o cenário político?

Bolsonaro desde a campanha e parte substancial do mandato, atacou a política e os políticos, como se não estivesse nela e fosse um deles ou todos os seus filhos.

Os bolsonaristas quiseram substituir o "presidencialismo de coalização" por um tipo tosco de presidencialismo de confrontação, atacando, diuturnamente, as instituições e a própria democracia. Formulou, numa enorme simplificação da realidade, uma artificial divisão entre a "nova" e a "velha" política.

Obviamente, a nova política, pura, virtuosa, é aquela a que eles se encontram e todos os demais seriam representantes da "velha" política. E, neste caso, o Centrão sempre foi atacado como um enorme mal, dado ao toma lá dá cá, ao fisiologismo e, no limite, a corrupção.

No âmbito discursivo ataques ao Centrão e na prática política concreta, o grupo esteve cada vez mais no bojo do Governo, buscando, ainda que de forma frágil, alguma governabilidade e, mais do que tudo, servir de anteparo a um processo de impeachment.

A eleição de Arthur Lira, também do PP, para a presidência da Câmara dos Deputados, já mostrava a dependência de Bolsonaro do Centrão que, como sabemos, havia, também, apoiado Dilma Rousseff antes do desfecho de seu governo.

O ministro, General Heleno, em evento político, num enorme chiste, cantarolou: "Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão". Depois, vendo o Centrão no coração do Planalto, Heleno apelou para a pós-verdade e afirmou que o bloco nem existia.

O Centrão não é nada daquilo que se pode esperar de um comprometimento republicano e democrático com a política brasileira, mas seus membros foram, todos, eleitos democraticamente e, por isso, são parte do jogo político.

Nas eleições de 2022, Bolsonaro e os bolsonaristas terão que enfrentar a realidade: o Centrão é, sim, parte do governo, mesmo tendo sido desprezado e atacado. Agora, Bolsonaro não foi do "puro" Centrão, quando muito, jogou na terceira divisão do Centrão como deputado. n

 

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Rodrigo Prando

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