A Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu, em 2014, que o direito à higiene menstrual é uma questão de saúde pública e direitos humanos. Não por acaso o reconhecimento veio. A pobreza menstrual assola milhões de mulheres ao redor do mundo.
Só no Brasil, segundo a Unicef, são mais de 4 milhões de meninas que não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais e 713 mil vivem sem banheiro e chuveiro em casa.
O sangramento vem todo mês e dura dias. A roupa fica encharcada de sangue. Este, sem a higiene adequada, apodrece fazendo adoecer por infecções de diversas ordens. Elas ficam sujas e doentes.
Passam por situações vexatórias e humilhantes que afetam a saúde mental causando danos à autoestima, autoimagem e autoconfiança pela impossibilidade do autocuidado.
Não ter condições de cuidar de si, de dar conta do que o corpo expele faz ainda aflorar o sentimento de impotência diante da vida como se esta fosse inimiga e não a possibilidade do desenvolvimento enquanto gente.
A pobreza menstrual rouba a dignidade humana, a saúde, o respeito a si, o direito de ser gente. O veto do chefe do Executivo em relação à distribuição de absorventes ratifica sua ausência de inteligência em gestão, já que o sistema de saúde economizaria em tratamento de doenças em razão da inadequação das maneiras de lidar com o fluxo menstrual.
Contabiliza para mais decisões que não há razão de ser, aleatórias ao pleno entendimento de órgãos internacionais e nacionais, do Congresso e Senado brasileiros e da vontade popular.
O negacionismo e a venda nos olhos são, hoje, marcas em todos, todas e "todes" da nossa nação. Fato que torna o governo federal cada vez mais distante da nossa realidade.
Ademais, o desrespeito, o desprezo, o desdém e o pouco caso que fazem do universo feminino é sádico e ultrajante. Banalizar direitos fundamentais das mulheres é de um machismo sem tamanho. Em contraponto, assistimos ao Governador do Ceará, Camilo Santana, sancionando lei que autoriza a aquisição e distribuição de absorventes.
No nosso Brasil, portanto, ainda há pessoas em sã consciência e empáticas, completamente capazes de trabalhar em favor da condição humana. Fiquemos atentos e que consigamos resistir e sobreviver até o fim destes tempos tão sombrios. Que acabe logo!. n