A pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), potencializou os indicadores da violência. De acordo com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o mês de março deste ano registrou um aumento de 165,6% nas denúncias de violações de direitos humanos.
Em 22 dias de janeiro, foram 2.868 registros desse tipo no Disque 100 e no Ligue 180. No mesmo período de fevereiro, foram 1.080 denúncias. Os dados mostram que, só do dia 16 de março a 22 de março, houve aumento de 56,3% nas denúncias desse tipo registradas em relação ao resto do mês.
Assim, o Ceará ocupa o 7º lugar como estado com mais registros de denúncias de violência e os grupos mais atingidos são mulheres, idosos, crianças e adolescentes e pessoas com deficiência.
Concomitante o agravamento da violência, houve a redução dos acessos aos serviços de apoio às vítimas, particularmente nos setores de assistência social, saúde, educação, segurança pública e justiça. Essa redução na oferta de serviços é acompanhada pelo decréscimo na procura, pois as vítimas podem não buscar os serviços em função do medo do contágio ou devido ao controle do violador.
Para contornar essas dificuldades e acolher as denúncias de violência, neste período aperfeiçoaram-se as plataformas digitais, aplicativos e sites. Por meio desses canais, vítimas, familiares, vizinhos, ou mesmo desconhecidos podem enviar fotos, vídeos, áudios e outros tipos de documentos que registrem situações de violência e outras violações de direitos humanos.
Discorrer sobre violência e rede de apoio na pandemia, leva primeiramente a problematizar os valores, as práticas, os limites e as autorizações imersas na cultura. De acordo com a socióloga Luiza Bairros, "Não é a violência que cria a cultura, mas é a cultura que define o que é violência".
O que hoje vemos como atos e comportamentos violentos, são tratados, muitas vezes, como atos e comportamentos cotidianos. O que fazemos para mudar essa realidade?
Esse enfrentamento à violência não pode se restringir ao acolhimento das denúncias. Esforços devem ser direcionados para o aumento das equipes nas linhas diretas de prevenção e resposta à violência.
Também deve-se investir na ampla divulgação dos serviços disponíveis, a capacitação dos trabalhadores da saúde, educação e segurança pública, para identificar situações de risco, a expansão e o fortalecimento das redes de apoio.
Além desses, as redes informais e virtuais de suporte social devem ser encorajadas, pois são meios que ajudam as vítimas a se sentirem conectadas e apoiadas e também alertam os agressores de que não estão completamente isoladas. n