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Ao mestre Gilmar, com carinho
Opinião

Ao mestre Gilmar, com carinho

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Neivia Justa, jornalista, executiva e criadora do movimento #ondestãoasmulheres (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Neivia Justa, jornalista, executiva e criadora do movimento #ondestãoasmulheres

Conheci o Gilmar de Carvalho no fim dos anos 1980, quando entrei na Universidade Federal do Ceará. Ele foi meu professor e o orientador da minha monografia de graduação do curso de Comunicação Social. Em 1991, apresentei meu trabalho sobre "O papel da publicidade no processo de verticalização de Fortaleza", desenvolvido sob o crivo exigente do Gilmar, um mestre dedicado, disciplinado e criterioso. Gilmar, um homem de hábitos simples, extremamente discreto, sempre se mostrou muito pouco à vontade com demonstrações explícitas de afeto. Um introvertido, com um tom de voz inversamente proporcional ao seu senso de humor, conhecimento, generosidade e grandeza de alma. Um homem brilhante e sagaz, doutor em comunicação e semiótica pela PUC, além de incansável pesquisador, apaixonado pela cultura e tradições do povo nordestino.

Lembro a alegria e o orgulho dele, expressos irreverentemente aqui, no O POVO, quando comecei minha carreira de apresentadora na TV Ceará, ainda uma garota recém-formada, aos 22 anos.

Nessas minhas quase três décadas de vida paulistana, nos vimos pouco. Guardo na memória um encontro casual que tivemos no Shopping Aldeota, numa das minhas vindas à terrinha, e nosso último encontro presencial, no Sesc Pinheiros, quando ele esteve em São Paulo para participar do lançamento da biografia, de sua autoria, sobre o Patativa do Assaré. Naquela noite, lá estávamos eu e o Lira Neto, nos emocionando, aprendendo e aplaudindo nosso mestre.

Quando minha turma fez 25 anos de formatura, convidei colegas e professores que estavam em Fortaleza para nos encontrarmos, matarmos a saudade, colocarmos a vida em dia e celebrarmos. Gilmar estava em uma de suas andanças pelo interior do Estado e não conseguiu fazer parte daquela noite memorável, que começou no pôr do sol, no Cais Bar, e terminou às altas horas da madrugada, na Peixada do Meio.

Num domingo de abril deste ano de 2021, acordei com a triste notícia de que meu querido Gilmar havia perdido a batalha para a covid-19. Sábado foi Dia da Consciência Negra, e hoje é dia de agradecer pela presença do Gilmar na minha história. n

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