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Plínio Bortolotti: O PT e as ditaduras
Opinião

Plínio Bortolotti: O PT e as ditaduras

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Uma das observações que setores da esquerda fazem para justificar a resposta, no mínimo dúbia, do ex-presidente Lula, em relação à ditadura da Nicarágua, é que são publicados trechos "fora de contexto" da entrevista que ele deu ao jornal espanhol El País. Portanto, a íntegra.

Perguntado sobre as recentes eleições (fraudulentas) na Nicarágua, que levaram Daniel Ortega, com 20 anos consecutivos no poder, a um novo mandato, ele disse o seguinte: "Todo político que começa a se achar imprescindível e insubstituível começa a virar um pequeno ditador. Por isso sou favorável à alternância do poder. Eu posso ser contra, mas eu não posso ficar interferindo nas decisões de um povo. Nós temos que defender a autodeterminação dos povos. Ah, por que a Angela Merkel [chanceler da Alemanha] pode ficar 16 anos no poder e o Daniel Ortega não? Por que o Felipe González aqui [na Espanha] pode ficar 14 anos no poder? Qual é a lógica?

Entrevistadora — "Sim, mas Angela Merkel governou 16 anos; Felipe González, 13 [anos] na Espanha. E nenhum deles mandou prender seus opositores. (Além do mais, parlamentarismo e presidencialismo são sistemas de governo diferentes.)

Lula — "Eu não posso julgar o que aconteceu na Nicarágua. No Brasil eu fui preso. Fiquei 580 dias na cadeia para que Bolsonaro fosse eleito presidente da República. Se Daniel Ortega prendeu a oposição para desfrutar da eleição, como fizeram no Brasil contra mim, ele está totalmente errado".

O fato é que, se a pergunta fosse sobre a Hungria, por exemplo, é possível que a resposta de Lula fosse diferente. A verdade é que a esquerda, ou pelo menos um setor dela, critica as ditaduras de direita, mas simpatiza com as da esquerda.

O PT, logo após a eleição nicaraguense, fez nota de apoio a Ortega, assinada pelo secretário de Relações Internacionais. Depois o documento foi cancelado. Segundo a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, o comunicado não havia sido aprovado pela direção partidária. No entanto, Hoffmann absteve-se de informar qual seria a posição do partido. O fato é que passou da hora de o PT remover essa farpa, que atormenta o partido.

Enquanto, no Brasil, o partido tem uma posição de respeito às balizas democráticas, fora do país, a condenação às ditaduras depende do lugar que elas ocupam no espectro ideológico. n

 

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Plínio Bortolotti

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