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Érika Amorim: Nos escutem, nos respeitem!
Opinião

Érika Amorim: Nos escutem, nos respeitem!

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Em março do último ano, escrevi um artigo a partir de uma pergunta que me foi feita em alusão ao Dia Internacional da Mulher: "deputada, o que é ser mulher?". À época, pontuei que ser mulher é reconhecer o legado das grandes mulheres que nos antecederam, que nos mostraram e mostram que tem que ser muito mulher para fazer sua voz ser ouvida e respeitada.

Nove meses depois, em dezembro, mês que trouxe a campanha do Laço Branco (mobilização que objetiva sensibilizar os homens na luta pelo fim da violência contra as mulheres), um episódio na Casa do Povo escancarou uma realidade que já me apertava a garganta pelo ato em si e pela sua recorrência: a minha autoridade, enquanto presidente da sessão em curso, não ser acatada. A minha voz ser diminuída por gritos e acusações.

A minha fala de repúdio durante o episódio foi alcançada por diversas mulheres que relataram que aquela não era uma situação inédita, muito pelo contrário: fazia parte da rotina de muitas. Ter nossa voz ouvida e respeitada ainda é uma peleja que nos maltrata.

Hoje, estou deputada e terceira secretária da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa. No pleito que me garantiu um assento na Casa, fui a mulher mais votada do Estado entre as parlamentares eleitas. Também estou procuradora adjunta da Procuradoria Especial da Mulher do Legislativo. Mesmo em locais que alcancei por mérito, a deslegitimação do meu papel como parlamentar, como mulher, ainda é pungente.

A pesquisa Políticas de Saia divulgou, em novembro, que 51% das mulheres revelaram que já sofreram algum tipo de violência política, sejam como eleitoras, candidatas ou no exercício do mandato. De todas as mulheres abordadas, mais de 40% relataram que já foram interrompidas em sua fala. Como não se indignar?

André Costa, advogado e conselheiro federal da OAB, escreveu que "quaisquer atitudes e comportamentos que violam a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres atingem a dignidade feminina". Ir contra o machismo e todo o tipo de violência que somos submetidas tem um custo caro, mas a nossa dignidade… isso não tem preço.

 

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Érika Amorim

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