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Paulo Henrique Martins: Soberania mutilada
Opinião

Paulo Henrique Martins: Soberania mutilada

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Continuamos a viver, nesta segunda década do século XXI, os mesmos dilemas que nos marcam desde o período colonial, passando pelo Império e pela República. Estes dilemas têm relação com as dificuldades, sobretudo políticas, para a emancipação de um projeto de sociedade nacional.

Pelo termo emancipação nos referimos à construção de uma autoconsciência cívica e política compartilhada pela maioria da população vivendo num determinado território com relação a seus objetivos comuns, materiais, culturais e espirituais.

A emancipação é uma utopia e uma luta visando a soberania, sendo particularmente difícil nos estados nacionais pós-coloniais.

Nestes, as elites dirigentes apresentam traços psicológicos infantilizados e egoístas que contribuem para reforçar a dependência para com os colonizadores, mutilando o ideal da soberania. Este tipo de mentalidade que sabota os pactos coletivos já tinha sido percebido por A. Memmi (2007) ao analisar o caso do norte da África.

A dependência colonial significa que as elites dominantes estão sempre prontas para trair os pactos de poder coletivos voltados para garantir a autonomia política. No Brasil, esta obsessão das elites com relação aos colonizadores passou por portugueses, franceses, ingleses e, agora, norte-americanos. Mas o servilismo é o mesmo.

O debate sobre globalização nas décadas finais do século XX pareceu, num momento, que tinha sido uma solução técnica dada pelo desenvolvimento do capitalismo, contribuindo para resolver a pobreza econômica e o desejo de emancipação do "Terceiro Mundo".

Mas isto foi apenas a cortina de fumaça que camuflou o avanço do neoliberalismo, reforçando a dependência da região com relação aos interesses norte-americanos.

Agora, o tema da soberania e de autonomização do Estado na organização da Nação volta à ordem do dia. Mas a realização deste ideal passa necessariamente pelo fortalecimento da prática democrática e da transparência dos processos decisórios relacionados com a apropriação e a distribuição das riquezas coletivas, com vistas a corrigir as injustiças sociais e promover a cidadania.

 

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Paulo Henrique Martins

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