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Áydano Ribeiro Leite: Lá vem a Selic subindo. E agora, José?
Opinião

Áydano Ribeiro Leite: Lá vem a Selic subindo. E agora, José?

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Por se tratar de uma variável macroeconômica que afeta a economia em vários aspectos, eu poderia discutir aqui, os parâmetros técnicos que norteiam a definição da Taxa de Juros Selic, mas preferi expor detalhes de uma conversa informal como um amigo de longas datas, o sr. José, empresário do ramo de panificação na cidade de Campos Sales, localizada no Sul do Ceará.

No encontro que tivemos não havia na pauta qualquer assunto ligado a economia, mas eu sentia que em algum momento iríamos enveredar por este caminho. Confirmada a expectativa, por coincidência, o principal objeto da conversa foi "Taxa de Juros" e a primeira intervenção do José foi direta e objetiva: "O que você achou do último aumento da Selic?".

Antes da resposta, somente para nos situar sobre esta questão, no dia 02/02 foi anunciado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) o oitavo aumento consecutivo da taxa Selic que atingiu um nível de 10,75% a.a. Prosseguindo a conversa com um certo "ar" de angústia, o amigo me fez a segunda indagação: "Qual seria o impacto deste movimento sobre o meu negócio?" Sem me deixar responder, o interlocutor confessa o desejo de investir, mas ao mesmo tempo relatou o medo de "perder".

Neste contexto, o receio do José sinaliza ao menos duas questões. A primeira, juros altos reduz a rentabilidade do investimento produtivo; Segundo, o temor em realizar o investimento me pareceu refletir o grau de incerteza que ronda a economia brasileira no ano de 2022.

De acordo com o José, sua meta seria levantar um investimento de R$100 mil para expansão do seu negócio, prevendo um retorno nominal de 8,6% a.a. Ora, considerando a Selic como o custo de oportunidade, claramente se observa a inviabilidade do investimento. Sabendo disso, José decide aplicar o capital em ativos de renda fixa que rendem nominalmente a Selic de 10,75%a.a.

Por aqui, percebe-se que sua decisão racional gera um conjunto de efeitos adversos sobre variáveis reais da economia como o nível de produção, emprego, renda e consumo. Por outro lado, é importante salientar que a Selic é o principal instrumento utilizado de controle da inflação (Neste ponto, vale discutir o diagnóstico da inflação; Oferta versus Demanda), que representa um imposto perverso, principalmente, sobre os mais pobres.

Em suma, por trás de toda e qualquer decisão do Copom na definição da Selic, há sempre custos e benefícios que devem ser considerados. No entanto, o que não podemos negar é que o choque positivo na Selic encarece o crédito e reduz o retorno esperado dos investimentos produtivos, seja em New York ou na nossa Campos Sales.

 

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Áydano Ribeiro Leite

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