No último dia 14, registramos, com o apoio e companhia de homens e mulheres destemidos, democráticos e vanguardistas do Ceará, a chapa Renovação e Libertação, que concorre à eleição da Fecomércio, no Ceará, marcada para o dia 5 de abril deste ano.
Ora, engana-se quem pensa que este assunto importa apenas a um segmento, a um nicho, a uma casta empresarial, de tal modo que não justificasse o tema de uma crônica que, neste espaço, busca sempre discutir a vida sob outros vieses, extraindo lições leves, mesmo de assuntos espinhosos.
Não! A Fecomércio exige atenção e o devido respeito. Hoje, a entidade representa 53% do PIB do Ceará, 16% referente ao comércio e 36% ao setor de serviços, ocupando mais de 421mil postos de trabalho no nosso estado. E é justamente por esta magnitude, essa representatividade, essa importância que a instituição, a exemplo de outras com papel primordial na vida dos cearenses, não pode ser tratada, como vem sendo, como uma gleba, uma capitania, um feudo governado há 24 anos pelo mesmo Senhor.
Qualquer instância de poder, seja político, seja classista, ou outro cujas decisões envolvam uma coletividade, exige transitoriedade. Porque quando o poder se enraíza, confunde-se interesse de liderados com os de quem lidera. Quem manda se acostuma a mandar, e quem obedece, a obedecer. Nisso, nada mais se cria nem se inova, seja pela apatia, seja pelo medo. Mas a história é construída pelos ousados. Por aqueles que, como diria o poeta Torquato Neto, "desafinam o coro dos contentes". O desconcertado coro dos que se contentam com pouco. O apático coro dos que são obrigados a se contentar calados.
A gente preferiu resistir, se rebelar, reagir, gritar. Literalmente caminhar. E o que era apenas um ato protocolar de registro de chapa ganhou as ruas de Fortaleza, na última segunda-feira, com os que se unem ao projeto marchando, protestando, mostrando a ara e convocando os colegas dos demais sindicatos a fazer valer a coragem e a determinação do povo cearense, defensor das liberdades e avesso a opressões.
Pressão? Submissão? Coação? Não. No Ceará, não tem disso não. Nossa inspiração vem de gente como Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, líder jangadeiro que desafiou escravagistas e fez o Brasil conhecer a força de um ideal personificada na coragem de um humilde cearense de Aracati.
O Dragão do Mar, órfão muito cedo, foi obrigado a trabalhar na infância, na complexa arte de atracar navios. No seu ofício, cansou de ver famílias de escravos serem separadas, torturadas, castigadas nos navios negreiros. Até quando comandou, no momento certo, com as condições e parcerias favoráveis, um levante ousado que iniciou o processo de abolição no Ceará, exemplo para outros estados.
Já bastava. Era a hora. Era o tempo. E, como bem disse o poeta francês Victor Hugo, nada é mais poderoso do que uma ideia que chegou no tempo certo.
Chegou a hora da mudança na Fecomércio do Ceará.