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A educação como caminho da fraternidade
Opinião

A educação como caminho da fraternidade

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Rafael dos Santos Silva, professor da UFC  (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Rafael dos Santos Silva, professor da UFC

A Campanha da Fraternidade é a expressão concreta de uma igreja em saída. Desde 1964 aborda temas que ajudam a sociedade no processo de reflexão e ação. Seu lançamento marca o início da quaresma que na tradição católica é um tempo de oração.

Oração significa orar e agir. Portanto, a 58ª edição da CF nos convida a refletir/agir sobre o tema educação. Aqui uma questão se insere "qual é o papel da educação: formar para a vida ou capacitar para o mercado?" A resposta exige regressar à etimologia da palavra para compreende-la mais que um verbo transitivo direto, se não como sinônimo de "direcionar para fora." O termo "educare" no sentido original está centrado na tarefa de preparar pessoas para os desafios do mundo, inclusive do mercado.

Contudo, há um atrofiamento das expectativas educacionais a estabelecer uma equação linear entre conteúdo e mercado. Assim a educação não constrói a emancipação, mas se contenta em suportar o capacitísmo utilitarista que leva o oprimido desejar se tornar opressor. Tal fragmentação encaminha à uma visão distorcida da realidade, dificultando seu enfrentamento. Esse ciclo ignora a ecologia dos saberes e despreza a sensibilidade humana tendo a competição como mediadora.

Nesse cenário, o Papa Francisco alerta: "uma educação descontextualizada resulta em seres igualmente descontextualizados." A pandemia da Covid-19 revelou o enfraquecimento da educação diante às novas exigências pedagógicas, o que impôs uma linha abissal entre a educação formal e a real.

Daí porque falar num pacto pela educação. Novamente, Francisco tem impulsionado a educação como um "antídoto real ao primado da indiferença." Para o Papa, uma cultura do cuidado deve ver a educação como processo capaz de identificar as reais prioridades, como fortalecer o protagonismo feminino e o papel da família, estabelecer humanidade à educação, até encontrar sustentabilidade entre economia e ecologia. Esses elementos podem devolver a educação à tarefa de formar para a vida, o que inclui o mercado, portanto pensada coletivamente.

Afinal, como dizia Paulo Freire "o papel da educação não é mudar o mundo, mas as pessoas. Estas mudam o mundo." Eis aí o grande objetivo da CF 2022, nos chamar à responsabilidade de mudar o mundo com fraternidade e educação. n

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