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Teresa Esmeraldo: Mamãe falei e omandato da masculinidade
Opinião

Teresa Esmeraldo: Mamãe falei e omandato da masculinidade

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O vazamento do áudio do Deputado Artur do Val, vulgo "Mamãe Falei", sobre viagem a Ucrânia em suposta missão de ajuda humanitária, nos causou nojo e indignação pelos comentários machistas e misóginos sobre as mulheres ucranianas, em plena guerra.

Na guerra convencional ou em suas novas versões, como assistimos no Brasil das milícias, facções e grupos de extermínio, os corpos-territórios das mulheres são os primeiros a serem conquistados e violados, como demonstram Rita Segato, em La guerra contra las mujeres, e os dados alarmantes sobre a violência contra mulheres cis e trans no país.

Para a antropóloga, o "corpo da mulher foi a primeira colônia", dada a relação estrutural entre o patriarcado e a "modernidade-colonialidade", onde o "mandato da masculinidade" assume a forma de um "pacto mafioso" que precisa de "vítimas sacrificiais".

A guerra às mulheres, mais visível nos feminicídios, está nas afirmações misóginas do Deputado: na comparação da fila das refugiadas a uma fila de balada, onde "só tem deusas", naturalmente "fáceis porque pobres" e interessadas no dinheiro que uma relação pode proporcionar; nos comentários que só "não pegou ninguém" porque "não teve tempo", mas "colou em duas minas", e quer "voltar logo" para fazer como o amigo Renan Santos, que viaja para os países só para "pegar as louras". Para Valeska Zanello, a masculinidade hegemônica é construída com base na misoginia, aversão ao feminino claramente identificada nos discursos antifeministas e nos feminicídios, mas facilmente confundida com elogios às mulheres, nos casos de objetificação sexual.

Mamãe Falei objetifica as ucranianas como corpos disponíveis para exploração no mercado sexual, remetendo a um padrão de beleza racista, associado à branquitude e à pobreza como sinônimo de disponibilidade sexual em troca de dinheiro.

Os discursos misóginos, racistas e homofóbicos de autoridades políticas não são novidades no Brasil atual. Se sustentam no pacto mafioso - misógino, racista e classista -, que silencia milhares de mulheres, como a vereadora Marielle Franco, assassinada há 4 anos, sem até hoje se descobrir o mandante, e a Ex-presidenta Dilma Roussef, silenciada por um Golpe Midiático-Parlamentar. Que possamos nos unir para desmontar esse pacto dos donos do poder. Que nenhuma de nós seja silenciada na guerra ou na paz!

 

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Teresa Esmeraldo

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