Logo O POVO+
Carlos Viana: Quando a esmola é demais, o cego desconfia
Carlos Viana

Carlos Viana: Quando a esmola é demais, o cego desconfia

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Segundo o ditado popular, "quando a esmola é demais, até o cego desconfia." É o caso da Medida Provisória 1.108, de 25 de março de 2022, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Dentre várias alterações na legislação trabalhista, chama atenção a que prevê a prioridade de pessoas com deficiência para o teletrabalho, o chamado trabalho remoto.

De acordo com o texto, "os empregadores deverão conferir prioridade aos empregados com deficiência e aos empregados e empregadas com filhos ou criança sob guarda judicial até quatro anos de idade na alocação em vagas para atividades que possam ser efetuadas por meio do teletrabalho ou trabalho remoto". É fato que pessoas com deficiência enfrentam uma maior dificuldade para a locomoção, e trabalhar em casa ajuda bastante.

Por outro lado, deixar essas pessoas em casa pode ser um fato que contribua para a maior exclusão desses profissionais, ampliando assim o preconceito contra esse público. Por causa do capacitismo presente em nossa sociedade, muitos empresários não acreditam no potencial dos profissionais com deficiência, o que poderá ser reforçado com a possibilidade do trabalho remoto.

Além disso, o trabalho presencial também é importante para o convívio social dessas pessoas, e também contribui para romper as barreiras do preconceito.

Diversas pesquisas também apontam o benefício da presença de pessoas com deficiência para os demais colaboradores da empresa, bem como para o crescimento, inclusive financeiro, dessas companhias, uma vez que os demais acabam vendo nesses profissionais um exemplo e se motivam ainda mais para o trabalho.

Dentre tantos retrocessos que marcam o governo Bolsonaro, está o que ele vem tentando infringir às pessoas com deficiências. Em pouco mais de três anos, a equipe do presidente Bolsonaro já tentou realizar quatro alterações na lei de cotas, principal responsável pela inserção desses profissionais no mercado de trabalho.

O governo tentou, também, modificar a lei que garante educação inclusiva a esse público, que acabou sendo derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Se o cego desconfia quando a esmola é demais, essa desconfiança eleva-se pelo menos o triplo quando essa esmola vem com assinatura de Jair Bolsonaro, um presidente que tenta diariamente extinguir os direitos das minorias.

 

Foto do Articulista

Carlos Viana

Articulista
O que você achou desse conteúdo?