Um leitor me escreveu dizendo que Lula era analfabeto e que por isso votaria no Bolsonaro. Sei que milhares de eleitores pensam dessa forma e que, por considerarem Lula analfabeto, não votam nele. É lamentável, preconceituoso e sintomático que brasileiros considerem Lula analfabeto!

Lula pode ser tudo, menos analfabeto! Tem, é claro, uma baixa escolaridade por falta de oportunidade, como milhões de brasileiros na época dele e ainda hoje. Escolaridade é privilégio neste País. 

A verdade é que, embora de pouca escolaridade, Lula é um homem de grande inteligência e uma bagagem cultural muito acima da média da grande maioria dos brasileiros, inclusive de doutores e empresários. Ele é um virtuose da palavra; convidado e homenageado, já proferiu palestras em dezenas de parlamentos e universidades ao redor do mundo. É capaz de trocar ideias e conhecimentos sobre qualquer assunto relevante para este País, argumentando e defendendo posições com propriedade, estando em dia com o progresso do conhecimento. Não aprendeu na escola; aprendeu na vida, viajando pelo País inteiro, que ele conhece como poucos, conversando e discutindo com o povo, com seus colegas trabalhadores e sindicalistas, com intelectuais, empresários, universitários, políticos, primeiros-ministros, presidentes, reis e rainhas etc. e lendo - sim, lendo, sobretudo na prisão. Tudo isso, sem se levar em consideração o fato de ter aprendido enormemente durante seus oito anos na presidência da República.

Lula tem o dom da palavra; fala e discursa com conteúdo, com conhecimento de causa, embora nem todos, obviamente, concordem sempre com ele. Pessoalmente, eu trocaria meus saberes acadêmicos pelos conhecimentos que Lula possui. A extensão de seu saber é superior à minha e provavelmente à de uns tantos que o qualificam de analfabeto, embora ele, como todos nós, não possa se aprofundar em determinados temas. Sua especialidade é a política; são questões econômicas e sociais do País; seus temas preferidos são a igualdade social, a eliminação da fome, a educação, a cultura, o emprego, um salário-mínimo que permita viver decentemente e ter uma vida plena.

Lula não é analfabeto; mas é tachado de analfabeto por gente que não perdoa a pobre, a miserável, como o Lula já foi com sua família, ter chegado ao topo por brilho e esforço próprios. Acham-no insolente. Não há necessidade de concordar em nada com Lula nem de gostar dele ou mesmo votar nele para constatar seu altíssimo nível de informações, seu domínio da retórica e sua preocupação em elevar a escolaridade de seus compatriotas. Basta ser justo e aberto; como basta ser justo, aberto e bem informado para reconhecer o quanto seu governo fez pela cultura e pela educação no País.

Esse "analfabeto" criou o Fundeb, o Prouni, o Reuni, expandiu o Fies, o Bolsa Escola e as cotas, implantou 21 campi em 15 Universidades Federais, aprovou 38 Institutos Federais de Educação, difundindo o ensino superior pelos interiores, instituiu o programa Cultura Viva, valorizou a Ciência e Tecnologia, aumentou os orçamentos da Cultura, da Educação, das universidades, nomeou Gilberto Gil e Juca Ferreira ministros da Cultura. É pouco? n