Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia
Historicamente, o Brasil é um emaranhado experiências excepcionais. Somos o único território de domínio português nas Américas. Vivemos a chamada "inversão da Metrópole", desde que Dona Maria I e os seus resolveram fugir de Napoleão. Esgarçamos, oficialmente, a escravidão até o fim do século XIX, quando já nenhum outro país vizinho carregava essa pecha. Embora "independentes" desde 1822, esse passado Colonial fez raízes profundas demais entre nós. Carregamos um ontem de colorido intenso e cafona no nosso dia a dia. Somos anacrônicos.
Seguimos patriarcais. Como não embrulhar o estômago com a cena do deputado Fernando Cury "importunando sexualmente" a colega Isa Penna, em plena Assembleia Legislativa paulista? Se um parlamentar faz isso num plenário cercado de gentes e de câmeras com uma mulher branca, advogada e de classe média, o que não se dá vida privada? Temos uma lei que inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos, e convivemos com notícias e notícias e notícias de brasileiras sendo assassinadas, espancadas, violentadas. Até quando?
Seguimos racistas e mercenários, tal como nos 1500, matando nossos povos originários por ouro e usurpando o trabalho dos nossos pretos. É assustador o caso, até agora sem respostas oficiais, da menina Yanomami, de 12 anos, estuprada e morta por garimpeiros que exploram ilegalmente a região de Waikás, em Roraima. É vergonhoso ver dona Madalena Silva, resgatada, com um atraso cruel, pelo Ministério Público do Trabalho da Bahia, depois de ser explorada por 50 anos pela "família" com quem vivia em regime de escravidão na cidade de Lauro de Freitas, chorar de medo de tocar numa pessoa branca. Até quando?
Definitivamente, há algo de muito errado em curso. Nosso colonialismo é perverso e resiliente. A questão é: precisa ser eterno? Que medidas seriam necessárias para reverter esse desarranjo? Esse debate só faz sentido se for público e coletivo. Performances individuais até mobilizam e encorajam seus entornos, como aconteceu recentemente no metrô de São Paulo, quando Welica Ribeiro foi vítima de injúria racial pela húngara Agnes Vajda, mas não promovem a ruptura necessária. A cena dos passageiros gritando "racistas, não passarão!" é contagiante, mas efêmera. A mudança efetiva pede mais. Lembrando: em outubro, temos eleições.
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