A Rádio Universitária FM, no ar há 40 anos, é espaço democrático, plural e inclusivo de educação não-formal, uma parceira entre a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC) e a UFC.
Nos últimos meses, a direção da FCPC vinha tentando intervir na emissora e torná-la menos plural, tendo a censura afetado inicialmente o programa Rádio Livre, na emissora há 26 anos. O programa, tido como "incômodo" pelos censores, aborda, jornalisticamente, temas como direitos humanos, ciência, mundo do trabalho, políticas públicas, combate à fome, vacinação, inclusive contra a Covid-19, e respeito à vida.
As tentativas de intervenção estendiam-se a outros programas jornalísticos e musicais, pretendendo impedir a veiculação livre de músicas com referência à religiosidade afro-brasileira e à diversidade artístico-cultural.
No dia 16/05, fui chamado ao gabinete do reitor, que oficializou sua decisão de me retirar da direção da rádio. No entanto, o meu incômodo, para dizer o mínimo, não dizia respeito à decisão de mudar o gestor da rádio, mas sim ao fato de que tal mudança se deu porque não aceitei submeter a equipe e a programação da emissora à censura imposta pela direção da FCPC.
Logo após minha exoneração, a veiculação do Rádio Livre foi proibida, cumprindo-se as ameaças. Diante da proibição, fiz a última apresentação do programa sob a pressão de um "representante" da FCPC/UFC no estúdio. A despeito da tentativa de intimidação, cumpri meu dever ético-profissional e denunciei aos ouvintes a intervenção e a censura, uma violência contra os profissionais e contra a emissora. Paira, hoje, um clima de incerteza sobre os rumos da RUFM, o que abala emocionalmente a equipe e prejudica o livre exercício de suas atividades.
Agradecemos, em meu nome e em nome da equipe da Rádio Universitária, a solidariedade e o amplo apoio da sociedade, que repudia os atos praticados em prejuízo da liberdade de expressão e do exercício da democracia na Universidade Federal do Ceará. É mais um ataque ao jornalismo e aos profissionais de comunicação, já tão violentamente agredidos nos últimos quatro anos no Brasil, inclusive por quem mais deveria respeitar os preceitos constitucionais. Seguimos, sociedade e comunidade universitária, na luta, na certeza de que a democracia prevalecerá.