A proximidade das eleições atiça o debate sobre a sub-representação feminina na política que não é um fenômeno isolado no Ceará. A disputa para os cargos proporcionais e majoritários é acirrada e excludente para o público feminino, haja vista que a política parece não ser coisa de mulher, para muitas pessoas.
Este velho dilema entre espaços públicos e privados e a naturalização de estereótipos exigem a consciência do pertencimento; o ser política(o), sair de casa, pensar e agir fora da alcova são ações que requerem coragem e energia, apoio emocional, suporte técnico e distribuição consciente e equilibrada de recursos financeiros. Some-se a isso a participação ativa dos partidos políticos.
Em 2018 foram cinco candidaturas ao cargo de vice-governadora, duas para senadora, 88 para deputada federal e 184 para o cargo de deputada estadual, totalizando 279 candidaturas femininas e 609 masculinas, no Ceará. Desprezando as suplências para o senado que também foram maioria de homens, as candidaturas femininas para os demais registros restringem-se apenas aos 30% exigidos na norma. Não há novidade, apenas o cumprimento da lei. E quantas mulheres foram eleitas no Ceará? uma vice-governadora, uma deputada federal e seis deputadas estaduais.
Penso que o uso isolado de normas se demonstra insuficiente para incrementar a participação da mulher na política. As teorias sobre a sub-representação feminina na política são muitas e eu tenho a minha hipótese: falta capital político, no melhor estilo bourdieusiano. Falta às candidatas conhecer as regras e saber jogar, se apropriar do campo político e não se deixar usar pelo masculino interessado. O capital político é feito de votos, estratégias, plataformas planejadas, governos passados, pertencimento a grupos políticos e aceitação de instituições. A política precisa ser vivida por mulheres que queiram participar, de uma forma qualificada, de um processo eleitoral competitivo e inclusivo.