Esta semana a Petrobras anunciou mais uma redução do preço da gasolina às distribuidoras. Desta vez, de 4,85%. Foi a terceira queda em menos de 30 dias. Para o consumidor final, a redução no preço médio da gasolina pode chegar a R$ 0,14 no Ceará, segundo estimativa do Sindipostos.
Mas, antes dela, o preço já tinha caído na bomba cerca de 20% no Estado em um mês, segundo a ANP. Sem dúvida, um alívio e tanto no bolso do consumidor que nos últimos meses chegou a ter que desembolsar até R$ 8,20 pelo litro da gasolina.
Foi também o que mais pesou para a deflação de julho, de 0,68%, a primeira em 25 meses. E pode fazer com que a inflação do País fique abaixo de 7% esse ano, segundo projeções recentes da FGV. Se isso se confirmar, será o menor patamar de inflação anual desde 2020 (4,52%).
Nesse cenário, acho que uma coisa que deve estar martelando na cabeça de muitos brasileiros: por que só agora a Petrobras resolveu baixar os preços? É o poder da "caneta" do novo presidente, Caio Paes de Andrade, que assumiu o cargo no dia 28 de junho? É a proximidade das eleições? E mais que isso, são efeitos duradouros?
A todas essas perguntas a resposta é uma só: não é bem assim. A PEC dos combustíveis, aprovada às vésperas das eleições, pesou? Sim, ao reduzir impostos federais e estaduais que incidem sobre o produto. Mas há também um golpe de "sorte"…
O risco de recessão mundial diante da desaceleração da economia chinesa e alta dos juros nos EUA tem sido decisivo para a queda do preço do petróleo no mercado internacional. Aliás, não só dele, mas também de outras commodities.
O que nos leva a outra questão: nada garante que de uma hora para outra, os preços não voltem a subir. E aí, nesse caso, até mesmo o efeito da desoneração tributária poderia ser engolido em apenas uma alta pela Petrobras.
Mas essa não é a única dúvida pelo caminho. Se a inflação está cedendo, por que o carrinho dos brasileiros continua vindo mais vazio a cada ida ao mercado ou farmácia? E não se trata de uma "sensação". Segundo pesquisa de mercado da Nextop, o volume dos itens abandonados na boca do caixa aumentou 16,5% em 2022, ante o ano passado.
A resposta para isso passa pelo fato de que a queda de preços ainda está concentrada na gasolina. Alimentos, que têm um peso maior sobretudo na cesta de consumo dos mais pobres, seguem em alta. Para se ter uma ideia, uma caixa de leite longa vida já é, em muitos supermercados de Fortaleza, bem mais cara que um litro de gasolina.
Além disso, para se ter um efeito maior de encadeamento nos preços dos demais produtos, é preciso que essa redução que a gente vê hoje na gasolina, fosse estendida para o diesel, já que reduziria o custo do transporte de cargas.
Isso sem falar no impacto que o tempo prolongado de inflação alta, juros caros e de baixos reajustes salariais tiveram sobre o poder de compra dos brasileiros. Ou seja, ainda vamos precisar de uma queda de preços mais acentuada e melhor distribuída para ter de volta o carrinho cheio.