O dia 21 de setembro marca uma luta histórica das pessoas com deficiência por questões básicas como visibilidade, respeito e inclusão. Por isso mesmo não se fala em dia de "comemoração", mas sim de luta. Luta porque a sociedade não é feita, não é gerida, não é pensada para as pessoas com deficiência.
Atualmente, exemplos não faltam, nas redes sociais grassam discriminação a pessoas com deficiência, sejam elas autistas, com deficiência física, intelectual, mental ou sensorial. A sociedade continua arrimando o discurso da inclusão a uma superação que não tem que vir das pessoas com deficiência, mas sim da sociedade: a deficiência não é algo a ser estigmatizado e superado, as barreiras que a sociedade cria, sim.
Tive a oportunidade de ver o mundo com dois olhares diferentes: o de uma pessoa sem deficiência e o de alguém com deficiência. Após um atropelamento que me deixou paraplégico, percebi que o mundo não mais me aceitava. Isso é o lado mais cruel do capacitismo estrutural que atinge diariamente dezenas de milhões de brasileiras e brasileiros com deficiência: a sociedade é criada e pensada para quem não tem deficiência. É uma lógica cruel e burra.
Após a violência no trânsito me tornar uma pessoa com deficiência e perceber essa absurda dicotomia, me dediquei à inclusão e contra o capacitismo. Já estive em organismos como a ONU, em Nova York, falando contra a exclusão, no Mercosul, em audiência pública no STF, etc.
Uma sociedade somente é justa se for para todas as pessoas que a compõem. A lógica da exclusão, perfeitamente demonstrada quando o ex-ministro da Educação de Bolsonaro disse que "crianças com deficiência atrapalham em sala de aula", é burra porque não percebe que uma sociedade diversa é positiva para toda a sociedade, inclusive para a economia. Afinal, quem ganha por excluir mais de vinte milhões de consumidores brasileiros com deficiência?
Nossa luta tem também atos individuais, mas é essencialmente coletiva: continuaremos até fazer com que a sociedade seja concebida e pensada para todas as pessoas, até porque deficientes não são as pessoas, mas sim as estruturas, os eventos, os espaços, as políticas que não incluem.