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Capacitismo eleitoral
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Carlos Viana é jornalista da área de Opinião do O POVO. Atua também na rádio O POVO/CBN com uma coluna semanal na área de inclusão

Capacitismo eleitoral

Tipo Opinião
FORTALEZA, CE, BRASIL, 12-06-2015: Carlos Viana, repórter do Núcleo de Opinião do jornal O POVO, deficiente visual. Fotos para arquivo. (Foto: Diego Camelo/O POVO) (Foto: O POVO)
Foto: O POVO FORTALEZA, CE, BRASIL, 12-06-2015: Carlos Viana, repórter do Núcleo de Opinião do jornal O POVO, deficiente visual. Fotos para arquivo. (Foto: Diego Camelo/O POVO)

Acompanhando o horário eleitoral no rádio, tenho percebido que algumas mulheres, mães de pessoas com deficiência, estão se colocando como porta-vozes do segmento de pessoas com deficiência.

Ao agirem dessa forma, essas mulheres contribuem para aumentar ainda mais o preconceito e capacitismo, do qual somos vítimas há séculos.

Ao se colocarem na condição de porta-vozes das pessoas com deficiência, essas mães, por mais boa intensão que tenham, acabam nos tomando o lugar de fala, e não nos deixando expressar nossas verdadeiras demandas.

Óbvio que não estou dizendo que a luta da pessoa com deficiência é exclusiva dela e que ninguém deve se meter. Nada disso. Afinal de contas, os direitos que conquistamos até agora foi uma luta conjunta, entre pessoas com deficiência, familiares e pessoas que, ao longo do tempo, foram percebendo a importância de nossas reinvindicações e passaram a empunhar nossas bandeiras.

Mas os tempos mudaram e aqueles tristes anos onde nós, que temos alguma deficiência, tínhamos que ouvir calados enquanto outros diziam o que era ou não melhor para a gente já se foram, para nunca mais voltar.

Para ilustrar melhor os malefícios de pessoas que tomam decisões por nós, segue um exemplo: há alguns anos fui a um parque de diversões com meus colegas de escola. Ao chegar, uma moça veio falar comigo, e me explicou que eu, por ser cego, não poderia brincar em diversos brinquedos, como montanha-russa. Tentei entender o porque, e ela disse que em outra cidade que o parque passou, a mãe de um jovem cego disse que esse não era brinquedo para quem "não enxerga".

Nesse dia acabei fazendo uma confusão dos diabos no parque e, depois de muita discussão e sem nenhum apreço pela montanha russa, acabei indo com meus amigos. Experiência que, espero, jamais ter que repetir. Não porque o brinquedo não "dá pra cego", mas por medo mesmo.

Portanto, fica aqui meu recado a essas mães que usam a deficiência de seus filhos para sensibilizar o eleitorado: antes de serem nossas porta-vozes, lembrem-se da frase da ativista April D'Aubin: "nada sobre nós, sem nós." Ou seja, nos ouçam primeiro.

 

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