"Se na próxima eleição presidencial sobrarem Lula e Bolsonaro no segundo turno, pelo menos um segmento expressivo da tosca elite brasileira vai repetir o voto bolsonarista de 2018, mesmo se isso representar uma carta branca para a implantação de uma ditadura no País."
Finalizei da maneira acima artigo publicado em minha coluna no OP , no dia 5 de abril de 2021, quando, ainda timidamente começava um movimento de "arrependimento" pelo voto em Bolsonaro, no qual se inscreviam declarações de FHC e uma carta assinada por uma boa parcela do PIB brasileiro, com 1.500 adesões, criticando a política de combate à pandemia e a "situação econômica e social desoladora", afora os maus modos de Bolsonaro, o que deve incomodar um pouco a elite, que se pensa refinada.
Recentemente, quando as pesquisas apontavam a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno, o petista conseguiu reunir expressivos representantes da indústria e do sistema financeiro — alguns apoiadores declarados de Bolsonaro — para uma conversa amigável, aparentemente uma aproximação dos empresários e da Faria Lima com o ex-presidente.
Porém, como Bolsonaro mostrou que ainda continua no jogo, os grandes empresários e banqueiros viram a oportunidade de aumentar o preço por um possível apoio a Lula.
Querem que o ex-presidente se comprometa com medidas liberais para economia, como a manutenção do teto de gastos e a permanência da reforma trabalhista. Exigem ainda um cheque pré-datado como garantia, que seria a nomeação antecipada de Henrique Meirelles como presidente do Banco Central.
Alguém pode argumentar que nada há de errado com uma política liberal, sendo justo que apoiadores influam no programa do candidato. Certo.
Mas o topo da pirâmide social, move-se exclusivamente por seus interesses econômicos. Se um candidato a ditador abraçar suas propostas liberais, a elite não terá nenhuma crise de consciência por apoiá lo. Pelo contrário, ser-lhe-á estendido um tapete vermelho (quero dizer, verde e amarelo), como aconteceu em 2018, e poderá voltar a suceder agora, dependendo de quem assumir a ponta da disputa na corrida presidencial.