Os desafios do eleitorado feminino, sempre debatidos a cada eleição, quando se questiona a sua relação com o machismo, são mais do que históricos. No Ceará, as ousadas jovens poetisas da década de 1920 já discutiam a possibilidade do direito ao voto igualitário. Destacavam-se as feministas Adília de Albuquerque Moraes e Suzana de Alencar Guimarães, rompendo barreiras preconceituosas e expondo a necessidade de liberdade através de artigos em jornais.
Paralelo a esse movimento revolucionário, a Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, à frente a sua filha, Dra. Henriqueta Galeno, também voltada à literatura, mas centralizada nas artes em geral, discutia todas as questões que envolviam as mulheres, notadamente o ostracismo a que era relegada, figurando como esposas dos lares, apenas.
No centro desses debates acalorados estava a professora da Escola Normal Elvira Pinho, mulher de respeito pelo fato de pertencer à Sociedade das Mulheres Abolicionistas, sucessora de Maria Tomásia nas palestras de aniversário da nossa abolição. Filha de Tenente Benévolo e irmã de Dabir e de Jaime Benévolo, formada no Colégio da Imaculada Conceição, de coração generoso ao ministrar aulas de piano gratuitamente para qualquer mulher carente, sobressaiu-se com seu temperamento forte e a oratória enriquecida pelos embates sociais, liderando campanhas pelo voto feminino e contra os descalabros da economia.
Organizou em 1946, aos 86 anos, a passeata das donas de casa contra a disparada dos preços dos alimentos, parando o Centro de Fortaleza. E da sacada do seu sobrado na Rua Senador Pompeu, próximo às redações dos jornais que flagraram o momento, discursou para uma multidão, pedindo para jamais se calar diante das explorações.
Veio a falecer a menos de dois meses, no dia 27 de agosto daquele ano. Uma triste notícia para o povo, notadamente do sexo feminino, que aprendeu com ela a convicção de que não se teme quando se tem razão. E assim, registrou O Povo sobre a sua partida: "Fortaleza assistiu a um dos seus maiores enterros, dessa mulher extraordinária chamada Elvira Pinho, cujo nome a história guardará para sempre".