Os primeiros avisos foram inconscientes, daquele saber que não se sabe... Tive pelo menos dois pesadelos: no primeiro, eu passava por uma cirurgia incrível feita por dois médicos (um jovem e um velho); no segundo, eu morria, encontrava o diabo e via tufos de cabelo no chão.
Depois destes sonhos e de um pico de pressão alta, desenvolvi uma certeza: eu havia realmente saído da garantia. Só então resolvi fazer um check-up completo, adiado desde o início da pandemia. Logo no primeiro ultrassom de mama, o médico foi categórico: "corra e faça uma biopsia deste nódulo".
Desde então minha vida mudou. Os outros exames de mamografia, ressonância magnética, mamotomia e biópsia confirmaram a suspeita: eu estava realmente com um câncer de mama nível 3. O diagnóstico de uma doença como essa é realmente traumático.
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi o fim de uma jornada de vida. Pensei: "vou fazer que nem o Ciro Gomes, vou para Paris, não ficarei careca, tomando remédio no hospital"; mas, depois do impacto inicial e de uma boa conversa com oncologista, mastologista, familiares e uma rede de amigos e amigas maravilhosos, descobri a boa notícia: tem cura.
O tratamento é complexo, feito em etapas, e varia de acordo com cada paciente, mas vale a pena a luta pela vida. Não há como dizer que é fácil passar por uma quimioterapia (pela qual já passei), e pelas futuras cirurgia e radioterapia. Também, até agora, não encontrei nada de bom no câncer. Nas minhas fantasias, imaginei que ficaria mais magra, ganharia "peitos novos" e faria tatuagens nas cicatrizes. Até agora nada disso se realizou, mas encontrei amigos incríveis, grupos de apoio sensacionais (Onco Friends, Panapaná, Roda da Vida) e passei a encarar a vida de uma forma mais positiva.
Atualmente me sinto grata e privilegiada nesta jornada de luta. Também considero um dever chamar a atenção sobre a prevenção. As campanhas do Outubro Rosa são necessárias para despertar a consciência de que o câncer pode ser tratado e pode apresentar consequências menores se for diagnosticado cedo. Portanto, o trabalho de alerta deve ser feito durante todo o ano. Não precisamos aguardar os pesadelos: é preciso um esforço para que todos tenham acesso aos exames para diagnóstico e tratamento.
De resto, posso dizer que a doença pode funcionar como uma passagem do meio - um período de pausa e transformação pessoal, onde muitas borboletas saem do casulo para a criação de um novo momento de vida.