Sempre seduziu-me e fascina-me as coisas disruptivas, inusuais que enxergo, dentre tantas, nas obras de Miró, Paul Klee, Delacroix, Picasso e o Cubismo, Marcel Duchamp e o Dadaísmo; Ionesco e o teatro do Absurdo, José Celso e o teatro Oficina, Augusto Boal e o teatro do Oprimido, Ariano Suassuna e o movimento Armorial; João Cabral e Morte e Vida Severina; no Cárcere de Graciliano Ramos e nas Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis; na arquitetura de Oscar Niemeyer dominada pelas curvas; de Frank Gehry e as formas distorcidas; de Le Corbusier e a Ronchamp expressionista; de Vilanova Artigas e o brutalismo arquitetônico paulista.
Em meio a tantas referências: Tropicália ou Panis et Circencis e Doces Bárbaros; Jorge Mautner e Kaos; Caetano com Araçá Azul e Gil com Batmacumba; Milton Nascimento e o Clube da Esquina; Glauber Rocha com Deus e o Diabo na Terra do Sol, "do meio-dia até o anoitecer, na matiné do cinema Olympia"
Outras tantas no Ceará: Manera Fru Fru Manera de Raimundo Fagner e Ricardo Bezerra; Carneiro de Augusto Pontes e Ednardo; Mote e Glosa de Belchior; Patativa com Canto Lá que eu Canto Cá; a revista cultural O Saco; a Padaria Espiritual cujo objetivo era "fornecer pão de espírito aos sócios em particular, e aos povos, em geral". A Padaria, fundada em 1892, precedeu a Semana de Arte Moderna de 1922. O espírito jocoso aproxima-as.
Há mais tantas na obra artística de Gal Costa que faleceu, no dia 9/11/2022, e nos deixou enlutados: Pérola Negra em um Vapor Barato; Baby, a Força Estranha; Vaca Profana na Chuva de Prata era um Barato Total; Não Identificado que o rapaz não tem cultura, crença ou tradição e Sua Estupidez; Nada Mais na Festa do Interior; Meu Bem, Meu Mal, assim Num dia de domingo.
Do primeiro disco solo, Gal Costa (1969), a Nenhuma Dor (2022), há gritos de alerta quanto às ameaças cotidianas à cultura brasileira. Divino, maravilhoso advertia: "Atenção para o refrão: é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte".
Viva Gal Costa, teu nome é Maria da Graça Costa Penna Burgos e "tudo certo como dois e dois são cinco." n