Parece ter caído a ficha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o equívoco de nomear José Múcio como ministro da Defesa para agradar os comandantes das Forças Armadas. Com essa concessão, em vez de o presidente ter um representante seu para comandar os militares, produziu um advogado dos militares dentro do governo.
O papel de Múcio seria, para usar um termo antigo, agir como um algodão entre cristais, quando o mais correto — como escrevi em dois ou três artigos anteriores — era passar logo uma risca no chão e avisar os generais: daqui não passa. A vocês é permitido apenas assuntos relativos à caserna.
A primeira ordem que Múcio deveria ter dado aos generais era o desmonte das verdadeiras vilas golpistas erguidas no entorno dos quartéis do Exército, com incentivo dos comandantes, que se tornaram chocadeiras de terroristas. E existe pelo menos um vídeo mostrando possível conivência de um coronel do Exército que, dentro do Palácio do Planalto, aparentemente tentou impedir a Polícia Militar de prender baderneiros que vandalizavam o prédio.
Com essas e outras evidências é obrigatório que as investigações alcancem também as Forças Armadas, para esclarecer qual o papel elas desempenharam para desencadear a barbárie que aconteceu em Brasília.
Mas, enquanto a temperatura chegava ao ponto de fervura, Múcio passava pano para os golpistas acampados, chamando-os de "democratas" e informando ao distinto público que ele tinha amigos e parentes entre os "manifestantes", como se a parentalha estivesse acima de suas obrigações legais.
Implementou então a política do término "natural" dos acampamentos, apostando no cansaço da malta que ali se acoitava, como se isso fosse possível. Mesmo porque muitos estavam sob paga e não iam abandonar o "serviço" espontaneamente.
Somente depois da invasão às sedes dos três poderes da República, é que Lula declarou ter sido um erro tratar os acampamentos como simples protestos democráticos, em uma crítica indireta ao Exército e direta ao seu ministro da Defesa.
O fato é que, para o bem do País, os militares precisam ser submetidos incondicionalmente ao poder civil. Sem isso, a democracia nunca se estabelecerá completamente.