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Acrísio Sena: Pinto Martins: a memória além do vira-latismo
Opinião

Acrísio Sena: Pinto Martins: a memória além do vira-latismo

Outros aeroportos que sofreram processos de concessão semelhantes ao nosso, em outras partes do mundo, mantiveram seus nomes. Basta ver o John Kennedy, em New York, e o Chales de Gaulle, em Paris
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O genial dramaturgo Nélson Rodrigues, criou a expressão "complexo de vira-lata" após a tragédia ocorrida no Maracanã, em 1950, quando o Brasil perdeu a Copa para o Uruguai. Segundo ele, o brasileiro alimentou ali um enorme sentimento de inferioridade.

Porém, Nélson foi enfático ao afirmar que o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico. "Por ´complexo de vira-lata´ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima".

No Ceará, o caso é bem pior. Além do vira-latismo, temos uma verdadeira compulsão por destruir nossa memória, nossas referências. Diferente de Salvador e Recife, o cearense adora destruir um prédio histórico para construir um edifício "moderno". Nossos casarões, hotéis, fachadas são vítimas quase cotidianas deste ímpeto de negação de nossa identidade.

O exemplo mais recente - e gritante - é o sumiço do nome do aviador cearense Euclides Pinto Martins do aeroporto de Fortaleza. No momento em que se celebra os 100 anos da viagem histórica do aventureiro de Camocim que atravessou as Américas, testemunha-se que a empresa Fraport retirou, há mais de um ano, o nome de Pinto Martins da fachada do aeroporto de Fortaleza, sem qualquer justificativa.

Trata-se de um flagrante desrespeito à história de Pinto Martins, com sua família e com os cearenses. Como historiador e deputado estadual, vice-presidente da Comissão de Cultura, já denunciei o caso várias vezes na tribuna da Assembleia Legislativa e provoquei o Ministério Público Federal e o Estadual sobre o tema em 7 de dezembro de 2021, ainda sem resposta.

A maior confirmação do nosso viralatismo é que outros aeroportos, que sofreram processos de concessão semelhantes ao nosso, em outras partes do mundo, mantiveram seus nomes. Basta ver o John Kennedy, em New York, e o Chales de Gaulle, em Paris. Continuarei minha luta - que acredito ser de todos os cearenses - denunciando o caso e exigindo que a memória e a história do Ceará sejam devidamente respeitadas.

 

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Acrísio Sena

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