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Marcelo Pimentel: Missão indígena e o Exército que devemos ser
Opinião

Marcelo Pimentel: Missão indígena e o Exército que devemos ser

As Forças Armadas voltaram a "falar politicamente" pela boca de seus generais. Deu no impeachment de legitimidade duvidosa, no governo militar desaprovado, nos acampamentos em porta de quartel e 8 de janeiro de 2023
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Há pouco mais de cem anos, o protagonismo político das cúpulas hierárquicas das Forças Armadas (FA) comprometia a capacitação operacional e profissional dos militares.

Por iniciativa da liderança política, o Brasil buscou missões militares estrangeiras dos expoentes bélicos à época - Alemanha e França - para orientar a reformulação do Exército. Os "Jovens turcos", como eram chamados os oficiais brasileiros que retornavam da Alemanha (1910-14), fundaram a Revista "A Defesa Nacional", importante fórum para debater a modernização da Força.

A cooperação da França, materializada, também, pela vinda de equipes de oficiais ao País (1920-40), aperfeiçoou o Estado-Maior como instância de planejamento.

Entre ambas, de 1919 a 1922, sobressaiu-se a "Missão Indígena", grupo de oficiais brasileiros que renovou o Exército integrando as doutrinas alemã e francesa.

Um dos ensinamentos relevantes das "missões", especialmente a francesa, dizia respeito à necessidade de FA, como instituição, e seus chefes, como lideranças e exemplos, adotarem postura afastada de lutas políticas e governos. "O grande mudo" deveria focar a capacitação profissional, mantendo-se em absoluto "silêncio" político.

A História é repleta de exemplos que demonstram desmedidos idealismos e/ou ambições incontroláveis desprezando a sábia lição da "missão francesa".

O 5 de julho de 1922 inaugurou o estado de indisciplina crônico que despertou o espírito "falante" das cúpulas hierárquicas das FA, disseminou instabilidade política e rompeu a democracia: revoltas tenentistas; Golpe de 30; intentonas comunista e fascista; Estado Novo; deposição de Vargas; candidaturas militares (1946-64), suicídio de Vargas; golpe do parlamentarismo; golpe de 1964; AI-5.

Após três décadas de "mudez" (1985-2015), as FA voltaram a "falar politicamente" pela boca de seus generais. Deu no impeachment de legitimidade duvidosa, no governo militar desaprovado pelo povo, nos acampamentos em porta de quartel autorizados por comandantes e no 8 de janeiro de 2023.

Os oficiais formados na Academia Militar das Agulhas Negras em 1987 prestaram homenagem à "Missão Indígena" adotando-a como nome da turma, terceira formada após a Ditadura. É a minha turma. É a turma do atual Comandante da 10ª Região Militar.

No próximo ano, quatro generais da Turma Missão Indígena ingressarão no Alto Comando do Exército. É hora de lembrar o que somos e o que devemos voltar a ser: "o grande mudo" - coeso e forte! n

 

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Marcelo Pimentel Jorge De Souza

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