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Francisco Luciano Teixeira : As forças armadas e desestabilização da República
Opinião

Francisco Luciano Teixeira : As forças armadas e desestabilização da República

Apresentar as Forças Armadas como poder neutro ou moderador é uma tese grosseira de quem não entende a legitimidade dos Poderes, que são necessariamente civis, pois os civis são o corpo do Estado
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As FFAA brasileiras tornaram pública uma nota, no dia 11 de novembro de 2022, com ideologias descabidas para quem usa as 'Armas Públicas'. O tom arcaizante é notório logo de início: "sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos da nossa história".

Apresentar as Forças Armadas como poder neutro ou moderador é uma tese grosseira de quem não entende a legitimidade dos Poderes, que são necessariamente civis, pois os civis são o corpo do Estado. Ora, com tal jogo de notas e respostas subreptícias, as Forças Armadas do Brasil demonstram que são, ainda hoje atrasadas e amadoras, pois, ao contrário das FFAA modernas, profissionais, participam da política, sem o controle civil objetivo devido, fazendo proselitismo a um controle subjetivo do Povo (Vide O soldado e o Estado).

A intenção dos militares em perpetuar o tal poder imperial vem desde o Governo Provisório, instituído logo depois da Proclamação da República. Tobias Monteiro, secretário de Rui Barbosa no tempo da redação da Constituição de 1891, no jornal A notícia, em 16 de outubro de 1894, narra a tremenda tensão com relação ao ponto mais desejado pelo marechal: que o Poder Executivo (onde se alocam as FFAA) tivesse características do Poder Moderador, podendo dissolver o parlamento. Os redatores foram contra, em especial Rui Barbosa. Deodoro, vencido, mas não convencido, assina a Carta e afirma para Barbosa: "o senhor quer que assine a Constituição, como está feita, mas talvez, como Antônio Carlos, o senhor tenha de sair do Congresso, inclinando-se diante da majestade de um canhão."

O Generalíssimo de Terra e Mar, Deodoro da Fonseca, foi profeta de suas intenções e golpeou a República, pela primeira vez, pouco mais de 8 meses depois de ser eleito Presidente, em 1891. Aliás, nos cálculos conservadores de José Murilo de Carvalho, professor da UFMG, titular da ABL, em seu clássico Forças Armadas e Política no Brasil, foram 18 golpes até a Revolução (Golpe) de 1930, que depôs Washington Luís e impediu Júlio Prestes, presidente eleito, de tomar posse. Não entra aí, entre tantos outros, o golpe do Estado Novo, o golpe preventivo do Marechal Lott, o Golpe Militar de 1964 e o tweet desavergonhado do General Villas Boas. n

 

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Francisco Luciano Teixeira Filho

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