Logo iniciou o novo governo Lula, as manifestações pela revogação do Novo Ensino Médio (NEM) ganharam força, por pelo menos dois motivos. Em primeiro lugar, o segundo ano de implantação do NEM tem feito professores e alunos sentirem na pele os problemas da reforma, como a presença de dezenas de micro disciplinas (eletivas), o esvaziamento dos conteúdos científicos e a falsa ideia de escolha sobre os itinerários formativos. Além disso, ter um governo progressista a frente do país impulsiona sindicatos e movimentos sociais a forçarem o diálogo que foi impossível nos governos anteriores.
No entanto, apesar desse cenário "favorável", o Ministério da Educação (MEC), capitaneado por Camilo Santana, segue relutante em revogar a reforma, e o diálogo esperado por professores, especialistas e seus representantes continua difícil. Camilo e Izolda privilegiam encontros com o setor produtivo, e se reúnem frequentemente com ONGs, fundações e institutos ligados ou patrocinados por grandes empresas - exatamente os mesmos agentes que construíram a arquitetura teórica do NEM e que agora, fingindo que nada têm a ver com o problema, falam em "mudanças substanciais", mas preservando a "essência" do modelo. Veja bem, até mesmo quem defende a manutenção da reforma, admite que existem falhas na composição e não apenas na implantação do NEM. Enquanto isso, professores e alunos estão nas ruas, tentando chamar a atenção do governo.
O notório desprestígio do MEC ao que dizem professores e seus sindicatos ganha, na verdade, contornos de desdém quando lembramos que essa mesma classe cultiva uma relação de certa simpatia em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT) (pelas conquistas do passado) e trabalhou majoritariamente pela eleição de Lula (ou pelo menos contra o projeto de desmonte bolsonarista). Também é inconcebível que o MEC não reconheça o vasto material científico produzido, nas nossas universidades públicas, que já antecipavam, muito antes da implantação do NEM, os efeitos negativos dessa reforma.
Para o NEM não há meio termo. Não há "ajuste" que dê jeito. Ou PT o revoga ou admite que vai pôr em curso o projeto educacional de Temer e Bolsonaro.