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Rachel Gomes: Uma geração que escolheu não ter filhos
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Rachel Gomes: Uma geração que escolheu não ter filhos

E por que esse movimento é percebido com mais força agora? Porque ficou mais fácil e menos pesado admitir isso. Porque agora, aos poucos, a sociedade vem pegando menos pesado com quem simplesmente quer cuidar da própria vida e só
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Rachel Gomes, jornalista da rádio O POVO/CBN (Foto: Sandro Valentim)
Foto: Sandro Valentim Rachel Gomes, jornalista da rádio O POVO/CBN

Ter ou não ter filhos? Esse é um dos grandes dilemas que permeiam os jovens casais atualmente. Conversando com amigos na faixa etária dos 25 a 30 anos acabei percebendo algo bem comum entre a maioria deles: o receio de serem pais. Esse receio passa pelo plano financeiro, mas não só. Remete também à falta de independência do casal, do fato de dedicar anos da vida a um outro ser, e não acaba por aí. Há também aqueles que já têm muito forte em si, desde muito jovens, o sentimento de não querer ou não saber cuidar.

E por que esse movimento é percebido com mais força agora? Porque ficou mais fácil e menos pesado admitir isso. Porque agora, aos poucos, a sociedade vem pegando menos pesado com quem simplesmente quer cuidar da própria vida e só. Sem tanto julgamento em cima disso. O depoimento recente do comediante e diretor Fábio Porchat encorajou muita gente a assumir publicamente o "não desejo" de ter filhos. E é aí que mora um perigo.

Escolher não ter filhos é tudo bem, assim como diversas escolhas da nossa vida. Mas isso não pode nos dar o direito de "odiarmos" crianças (reiterando que o Fábio em nenhum momento menciona isso). O meu grande receio ao ler os comentários na postagem do artista foi abrir mais brecha na sociedade para excluirmos as crianças, bebês e seus cuidadores da convivência social. Já existe um movimento chamado "Childfree" - pessoas que querem distância de crianças.

As falas iam de: "Deus me livre de ter filho" até: "A melhor decisão da minha vida foi não ter filhos". Hoje já existem hotéis, restaurantes, vários lugares e eventos que simplesmente não aceitam crianças. É isso que, na minha visão, não pode ser expandido. De fato, cuidar de um ser, educar, amar, não é tarefa fácil, mas não há como normalizar o fato de um grupo, uma faixa etária, ser simplesmente banida da convivência social.

Eu sinto esse movimento se fortalecer e me bate o medo de vivermos numa sociedade onde simplesmente crianças não são bem-vindas. Crianças têm sim os seus comportamentos típicos da idade e da fase de desenvolvimento, mas nós somos os adultos e temos de ter (ou espera-se que tenhamos) a maturidade de conviver com elas. Não precisa criar uma criança, mas precisa sim aceitá-la e respeitá-la no contexto social, assim como demais grupos. n

 

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