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Mariana Luz: O risco de as crianças aprenderem menos
Opinião

Mariana Luz: O risco de as crianças aprenderem menos

Em 2022, a diferença da aprendizagem entre crianças de famílias pobres e ricas foi equivalente a 3 a 4 meses. Entre crianças brancas e negras (pretas e pardas) a diferença equivale a um mês de aprendizagem
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Dos setores que tiveram de se reinventar por conta da pandemia, poucos foram tão desafiados quanto a educação de crianças na primeira infância. Nenhum conteúdo é capaz de substituir as interações e os estímulos nessa etapa tão essencial para o desenvolvimento humano. Não surpreende, portanto, o impacto negativo na aprendizagem dessas crianças em função do fechamento das escolas entre 2020 e 2021. O mais importante, agora, é sabermos que a recuperação é possível.

É o que mostra um estudo recém-concluído pela equipe do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais da UFRJ (LaPOpE). Produzida na rede pública de Sobral, no Ceará, a pesquisa verificou que, respeitados parâmetros de qualidade, as crianças podem recompor aprendizagens afetadas pela covid-19.

O estudo acompanhou o desenvolvimento de 1364 crianças que vivenciaram o segundo ano da pré-escola entre 2019 e 2022 e evidencia que o grupo mais prejudicado foi o de 2021, com apenas seis meses de atividades presenciais na fase pré-escolar.

Em relação a quem estava na pré-escola em 2019, a perda foi de 10 a 11 meses em linguagem e matemática. Na mesma comparação, o grupo de 2020 sofreu perdas de 6 a 7 meses de aprendizagem. Em 2022, os diferentes testes indicam que o aprendizado volta a subir a níveis similares ao pré-pandêmico.

O estudo também evidenciou o impacto do nível socioeconômico e de raça, variantes que não existiam em Sobral antes da pandemia. Em 2022, a diferença da aprendizagem entre crianças de famílias pobres e ricas foi equivalente a 3 a 4 meses. Entre crianças brancas e negras (pretas e pardas) a diferença equivale a um mês de aprendizagem.

Os resultados dessa pesquisa mostram que a qualidade do atendimento é a âncora para ajudar todas as crianças a recuperar o que foi perdido. E que a promoção da aprendizagem precisa ser feita com equidade, apoiando quem enfrenta mais dificuldades. Essa responsabilidade não pode ser só da rede de educação nem só do município. Vamos juntos combater os riscos e construir uma rede de educação que permita às nossas crianças aprender sempre mais e mais. n

 

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Mariana Luz

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