Sobre a polêmica relativa ao corte de uma grande árvore anualmente, para servir de mastro à bandeira de Santo Antonio, em Barbalha- Ce, tradição antiga e cheia de significado.

Sou barbalhense e amiga de Santo Antonio, que me viu nascer e crescer. Morava na rua do Video e acompanhava a passagem do cortejo da varanda de casa, quando pequena. Depois, adolescente, ia com as amigas esperar a chegada do pau na entrada da cidade, vindo da banda do Caldas. Daí seguíamos no meio do empurra empurra, homens cobertos de barro, gritaria de mulheres pedindo marido ao Santo, muita cachaça, música e cantoria. Era o dia mais lindo do ano, que começava na madrugada com a alvorada das bandas de pífaros e zabumbas.

Quem sabe devo a Santo Antonio meus casamentos, principalmente o derradeiro. Agradeço. Porém, não é mais tempo para tergiversações quanto à natureza: Ultrapassamos os limites de segurança.

Cada árvore é um tesouro a ser preservado. Principalmente as que conseguiram chegar à idade adulta, com o ambiente que criam em torno de sí e do qual fazem parte. O compromisso de plantar 100 mudas para cada grande árvore derrubada não resolve. Uma árvore que se planta agora não preenche a clareira, ferida aberta pela derrubada de um indivíduo e pelo despejo do condomínio de seres que nele habitam.

A cultura é dinâmica e incorpora as dimensões do tempo. É criativa e encontra soluções para as impossibilidades. Por isso sobrevive.

É preciso enfrentar esse dilema com responsabilidade e compromisso com a Natureza e com as Tradições. Confio em que o povo da região compreenderá a necessidade de mudança, desde que participe da busca da solução. Se bem conduzido, esse processo poderá ser uma oportunidade de enriquecimento da consciência coletiva no sentido da preservação da Floresta Nacional do Araripe e de todas suas riquezas. n