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Francisco Casimiro : Ciências Agrárias, tarefa é salvar o futuro
Opinião

Francisco Casimiro : Ciências Agrárias, tarefa é salvar o futuro

A Escola de Agronomia foi fundada em 1918, tornada pública em 1935 e constituinte da UFC a partir de 1954, completando, neste ano, 105 anos. Hoje, devemos alçar voos coletivos na formação da intelectualidade
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Francisco Casimiro, professor titular do Centro de Ciências Agrárias da UFC, doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Francisco Casimiro, professor titular do Centro de Ciências Agrárias da UFC, doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP

Há 37 anos, subi as escadas da "Escola de Agronomia do Ceará", prédio bonito do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFC. Tinha um olhar sonhador de estudante de Agronomia vindo do interior do Ceará, filho de agricultores orgulhosos. Repetia para mim um mantra que esperançava meu futuro: "Ainda serei professor desta universidade".

Assim, meu caminho se iniciou no sertão cearense, passou pelos campos de Piracicaba (SP), pampas de Toledo (PR) e pelos manguezais de Ilhéus (BA) até retornar a Fortaleza, cumprindo uma promessa da juventude. Recebi a acolhida do CCA, que hoje tem o desafio de se tornar um centro da complexidade, do cuidado da vida, da produção de alimentos e de soluções criativas para uma crise ambiental e econômica.

Constantemente, a universidade se questiona sobre suas finalidades e seu papel no desenvolvimento da sociedade. O Centro de Ciências Agrárias, carregado de historicidade, recebe a responsabilidade e o status de elevação advindo do acúmulo de conhecimento, de expertises capazes de nos surpreender diante dos desafios da contemporaneidade.

A Escola de Agronomia foi fundada em 1918, tornada pública em 1935 e constituinte da UFC a partir de 1954, completando, neste ano, 105 anos. Hoje, devemos alçar voos coletivos na formação da intelectualidade, mantendo-nos com os pés na terra.

Hoje, mais 70% da população brasileira apresenta algum grau de insegurança alimentar, mas o crescimento da fome, sobretudo no campo, não se deve à falta de comida, mas sim à extrema desigualdade. Além de enfrentar essa crise social, temos que diminuir a emissão de gases de efeito estufa.

Salvar o futuro é tarefa complexa, para muitas mãos: agrônomos (as), engenheiros (as) de pesca e de alimentos, zootecnistas, gestores(as) de políticas públicas e economistas ecológicos, formados(as) pelo CCA. Esta tarefa exige o abandono das pretensões normativas e controladoras das concepções tradicionais da ciência em prol de um caráter prospectivo e emancipatório da atividade científica.

Nosso único caminho possível, neste novo ciclo da UFC, é construir alternativas e revelar oportunidades "em diálogo com a natureza, da qual ela saberá apreciar os múltiplos encantos, e com os homens [e as mulheres] de todas as culturas, dos quais ela saberá então respeitar suas questões", como nos ensinou o químico russo-belga Ilya Prigogine. n

 

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