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Democracias conexas
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Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidade Rey Juan Carlos (2007), diretor-executivo do Interlegis do Senado Federal. Analisa o cenário político nacional, a partir de um merguilh0op mais profundo nas causas e efeitos.

Democracias conexas

A pergunta que paira até o momento em Washington é saber se Biden, que concorrerá a um novo mandato, terá forças para vencer Trump
Tipo Opinião

O Brasil deve voltar seus olhos para a eleição presidencial americana. O populismo que levou Donald Trump ao poder também surgiu no Brasil e foi responsável pela eleição de Jair Bolsonaro. Curiosamente, foram presidentes de apenas um mandato e foram vencidos por nomes que encarnaram um simbolismo de rejeição ao estilo de liderança impresso por ambos. Isso significa que tanto Biden quanto Lula venceram mais pela rejeição causada por Trump e Bolsonaro do que por suas próprias virtudes.

Um novo capítulo desta história começa a ser contado nos Estados Unidos. Assim como Bolsonaro, Trump enfrenta problemas com a justiça, porém, ao contrário do brasileiro, deve manter seu direito de concorrer nas primárias e, caso obtenha a indicação do partido, partirá em busca sua redenção, que significa voltar ao comando do país.

A pergunta que paira até o momento em Washington é saber se Biden, que concorrerá a um novo mandato, terá forças para vencer Trump. Mais do que isso, é preciso calcular se a rejeição de Trump será suficiente para entregar um novo mandato para Biden, assim como em 2020. Esse cálculo pode balizar a escolha dos republicanos nas primárias, uma vez que, sem Trump e sua rejeição na jogada, as chances de vitória aumentam.

Para além disso, os ensinamentos do pleito americano, assim como em 2016 e 2020, nos fornecem dicas valiosas sobre o cenário eleitoral brasileiro, assim como vimos em 2018 e 2022. Isso significa que 2024 pode sugerir para qual sentido a onda eleitoral de 2026 pode se direcionar. A vitória de alguém como Ron DeSantis, por exemplo, mostra que existe um espaço dentro da direita para um novo nome, como o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. De outro lado, a reeleição de Biden fortalece a leitura de continuidade, o que favoreceria uma reeleição de Lula.

Tudo ainda são conjecturas, porém fato é que estamos falando de duas ondas similares, que chegaram quase instantaneamente aos dois países e que levaram líderes de uma direita populista ao poder. Além disso, ambos foram vencidos na tentativa de reeleição por candidatos mais à esquerda, dentro de um discurso centrista, no pós-pandemia, embalados especialmente pela rejeição ao oponente. Se a onda continuar a produzir os mesmos efeitos nos dois países, em 2024 poderemos estar novamente assistindo a uma prévia do que virá dois anos depois no Brasil.

Líderes populistas circulam entre o amor e ódio, ou seja, pela aceitação cega ou pela rejeição plena, uma vez que movem seus discursos pela emoção, jamais pela razão. São o grande mal da política, pois transitam pela direita e pela esquerda e geralmente causam desequilíbrios institucionais, mesmo nas democracias mais sólidas, como vimos no caso americano e até naquelas ainda formação, como recentemente no Brasil.

O populismo jamais está vencido. O modelo vive de ondas, que, embaladas e correlatas, geram resultados similares em diversos pontos do mundo. Na última década há um claro movimento neste sentido e precisamos observar se refluem ou vem ganhando força. As eleições presidenciais americanas serão um forte indicativo dos rumos tomados desta onda. Um pleito para ser acompanhado de perto, que pode indicar o futuro por aqui. n

 

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