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Jurema Werneck : Curió mostra que é possível dizer não à violência
Opinião

Jurema Werneck : Curió mostra que é possível dizer não à violência

O primeiro júri é apenas o início de um longo processo que ainda precisa incluir outros 30 policiais denunciados participação na mesma chacina do Curió. Mas pode ser um marco importante de mudança no Brasil
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Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil (Foto: Divulgação )
Foto: Divulgação Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil

Levou mais de 60 horas e 8 anos de luta incansável para, na madrugada de domingo, o Tribunal do Júri decidir pela condenação dos quatro primeiros policias militares envolvidos na terceira maior chacina na história do Ceará. Finalmente, os 11 jovens assassinados, os 7 sobreviventes, as 18 famílias traumatizadas, e todos que vivem na Grande Messejana puderam respirar aliviados: a justiça começou a ser feita!

Para as mais de 10 milhões de pessoas de todas as partes do mundo, que compõem a Anistia Internacional, a condenação destes quatro agentes sinaliza que no Ceará, e no Brasil, é possível ter esperança de que um dia, o mais breve possível, daremos fim ao ciclo de impunidade que alimenta o medo de novos massacres cometidos por agentes do Estado, aqueles que por dever de ofício, deveriam proteger a vida de todas e todos. A decisão do júri, apoiada nas provas oferecidas pelo Ministério Público, mostra que é possível responder de forma correta à violência cometida por policiais.

O primeiro júri é apenas o início de um longo processo que ainda precisa incluir outros 30 policiais denunciados por participação na mesma chacina. Mas pode ser um marco de mudança no Brasil, usualmente marcado por irregularidades e impunidade. Nós da Anistia Internacional continuaremos mobilizados para que este desfecho parcial inspire um movimento mais amplo pelo fim da impunidade, em direção à justiça e reparação no país.

Seguiremos ao lado das organizações e movimentos cearenses que lutam por justiça e direitos acompanhando os próximos passos do julgamento, que será retomado em agosto e setembro. É preciso continuar monitorando e instando autoridades a cumprirem seu compromissos de proteção dos sobreviventes, familiares e outros defensores de direitos humanos, garantindo também o apoio psicossocial necessário e a reparação devida. Curió e suas vítimas não devem ser esquecidas. Seguiremos cobrando que as autoridades cumpram suas obrigações com os direitos humanos previstos em nossa Constituição e em leis e tratados internacionais que o Brasil assina. Para que madrugadas de terror não se repitam!

 

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