As populações pretas carregam o peso de uma cor/raça ainda estigmatizada no Ceará e no Brasil. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad - IBGE), evidencia, contudo, o aumento demográfico da população preta. Um resultado que incrementará a formulação das políticas públicas para essa parcela da população e a recuperação de sua autoestima.
O IBGE pesquisa cor/raça da população com base na autodeclaração, conforme as categorias: branco, pardo, preto, amarelo e indígena. No país e na sociedade regional, - historicamente estruturados por escravidão, racismo científico, higienização, políticas do branqueamento, ideologias da mestiçagem, silenciamentos e do mito da democracia racial -, constituiu-se uma sociedade em que o sujeito embranquecido se torna menos discriminado.
No Brasil, a discriminação por cor/raça e os efeitos do racismo foram identificados pelas pesquisas da Unesco na década de 1950 e ratificadas por outros estudos a partir de 1980. Situação igualmente denunciada pelo Movimento Negro Brasileiro no Censo da década de 1990, em sua campanha: "não deixe sua cor passar em branco"; e no Ceará pelas ações do Grupo de União e Consciência Negra, liderado por Lúcia Simão, e do Fórum Cearense de Entidades Negras.
Para efeito das políticas públicas, o IBGE soma pretos e pardos e os considera "negros", termo que inexiste em suas classificações. Essa ressignificação foi uma vitória do Movimento Negro que, por meio de uma definição birracial, não biológica, mobilizou uma política de construção de solidariedade identitária dos excluídos pelo racismo à brasileira.
Com as Ações Afirmativas e as cotas raciais no país, tem-se, na execução de políticas de inclusão, o combate ao racismo estrutural e à discriminação racial sofrida pelos sujeitos em decorrência de seu fenótipo (pretos e pardos negros), de suas marcas visíveis, como pontuou Oracy Nogueira. Contexto que incide, notadamente, na afirmação das populações pretas.