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Lier Pires Ferreira: Será preciso negociar porque direita ganhou as eleições na Espanha, mas não tem maioria para governar
Opinião

Lier Pires Ferreira: Será preciso negociar porque direita ganhou as eleições na Espanha, mas não tem maioria para governar

Pela história política, é praticamente impossível o PP atrair membros da coalizão de esquerda, Sumar, a quarta maior força política do país, com 31 deputados, para um governo situado entre a direita e a extrema-direita
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Desde 1975, quando acabou o regime franquista, a Espanha oscila entre governos de direita e de esquerda. Não é diferente agora. No último dia 23/7, o Partido Popular (PP), conservador, liderado por Alberto Nuñes, venceu as eleições e conquistou 136 cadeiras no Congresso dos Deputados, o equivalente à nossa Câmara dos Deputados. Teria sido uma baita vitória contra a coalizão de esquerda que sustenta o atual presidente, Pedro Sánchez, não fosse o fato de que, para governar, são necessários no mínimo 176 dos 350 deputados.

As projeções já indicavam que, sozinho, o PP não conseguiria o número mínimo de congressistas. Por isso, estava prevista uma aliança com o Vox, de Santiago Abascal, esta aliança colocaria a extrema-direita no governo pela primeira vez desde o fim do regime franquista. Mas o Vox conquistou somente 33 assentos, 19 a menos do que tem hoje, inviabilizando a formação da maioria. Esse é o começo do drama.

Pela história política espanhola, é praticamente impossível atrair, por exemplo, membros da coalizão de esquerda, Sumar, a quarta maior força política do país, com 31 deputados, para um governo situado entre a direita e a extrema-direita. Portanto, neste momento há três cenários possíveis. No primeiro, Alberto Nuñes buscará o apoio de outros partidos conservadores, como o Partido Nacionalista Basco, que, entretanto, rejeita a aliança com o Vox. No segundo, Pedro Sánchez tentará continuar no cargo, aliando-se não apenas ao Sumar, mas também aos partidos nacionalistas da Catalunha e do País Basco, regiões com fortes movimentos separatistas. Por fim, pode haver um impasse, o que forçaria a realização de novas eleições, como ocorreu em 2016 e 2019.

Como qualquer regime parlamentarista, ou mesmo no presidencialismo de coalizão como no Brasil, a governabilidade é sempre uma conquista, nunca um presente. Em um país com fortes polarizações políticas, nos quais coalizões multiformes, de cunho fisiológico, não são comuns, será preciso negociar com habilidade e competência para manter a estabilidade democrática e as conquistas sociais recentes, que fazem da Espanha um dos 20 melhores países do mundo para se viver. n

 

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Lier Pires Ferreira

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