Entre 14 e 15 próximos haverá, em todo Brasil, eleições para renovação de mandatos em Conselhos Regionais de Medicina. O assunto interessa à sociedade na medida em que ferve, de norte a sul, a polarização médica que se viu durante a pandemia, entre defensores da necropolítica do antigo governo e críticos do negacionismo. O debate deve transcender à categoria.
O povo brasileiro acompanhou a tentativa de esfacelamento do Sistema Único de Saúde empreendida nos últimos anos, fato só não consumado porque o SUS se mostrou indispensável ao enfrentamento da pandemia de Covid-19. Por falar em pandemia, o povo também testemunhou a negação do antigo mandatário à sua gravidade, assim como assistiu à sua resistência às máscaras, as investidas contra o isolamento social, as ações de aglomeração, o empenho no boicote às medidas de governadores e prefeitos para conter o morticínio, a postergação na aquisição de vacinas, tudo isso sob as vistas de várias autarquias médicas que, a despeito do dever legal de fiscalização, no mínimo negligenciaram o uso desenfreado de medicamentos ineficazes para o tratamento da doença, segundo a ciência.
No Ceará, há duas chapas na disputa e não é difícil saber quem se posicionou concretamente de um lado e outro. Há uma que se orienta pela ética e verbaliza propostas sociais e humanistas em sua plataforma, preservando a participação paritária de gênero em sua composição. E outra que carrega o peso de não poder sustentar o mesmo.
Em honra dos que perderam a vida, dos órfãos, dos que seguem sofrendo com doenças decorrentes da Covid, dos profissionais de saúde e demais trabalhadores que foram às ruas correr risco de vida para salvar os que tiveram a oportunidade de tentar escapar na segurança do lar, é dever geral assumir alguma responsabilidade nessas eleições. Que médicas e médicos votem fazendo jus à integridade proposta por Hipócrates e os que não somos, não fujamos à incumbência de pedir o voto para revidar, por menor que seja o troco, a catástrofe humanitária que tanto sofrimento nos trouxe e que continuará nos assombrando anos a fio.