Logo O POVO+
Natalia Fingermann: Venezuela e os governos latino-americanos
Opinião

Natalia Fingermann: Venezuela e os governos latino-americanos

A fragilidade institucional da Venezuela provoca danos significativos, como o desflorestamento de 1.4 milhão de hectares de 2015 a 2021; o aumento do plantio de coca e o descontrole do garimpo ilegal de ouro
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Natalia Fingermann, professora de Relações Internacionais do Ibmec SP
 (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Natalia Fingermann, professora de Relações Internacionais do Ibmec SP

Na recente Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia ocorreu uma reunião que demonstra a preocupação das lideranças dos blocos sobre o isolamento da Venezuela. Essa busca pela reintegração do país ganha um novo impulso com o Brasil na negociação.

O reconhecimento pelo Brasil da importância da Venezuela foi questionado por analistas durante a visita de Maduro à Brasília. Há ainda alardes de que essa aproximação seja meramente de cunho ideológico.

Podemos ver a reunião da Cúpula Celac-UE sob essa mesma perspectiva. Entretanto, sabemos que a lente da ideologia limita o escopo de análise, uma vez que os Estados-nações agem com o objetivo de maximizar seus próprios interesses nacionais.

Então, hoje, há ao menos três questões que mobilizam a América Latina em torno da Venezuela: migração; proteção da Amazônia; e o comércio e investimento.

Sabemos que as sanções econômicas e o empobrecimento da Venezuela geraram um dos maiores êxodos migratórios nas Américas. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (2022), o fluxo de 5,4 milhões de venezuelanos representa uma das maiores crises de deslocamento da contemporaneidade.

Já sobre a proteção da Amazônia, essa é questão essencial para a região, mas também para o mundo que busca amenizar os impactos das mudanças climáticas.

No entanto, compreendemos que a fragilidade institucional da Venezuela tem provocado danos significativos, alguns exemplos são o desflorestamento de 1.4 milhão de hectares de 2015 a 2021; o aumento do plantio de coca permeando a Colômbia; além do descontrole do garimpo ilegal de ouro.

Ademais, é sabido que a queda drástica das relações comerciais dos países da América Latina com a Venezuela vai na contramão dos interesses nacionais. Ainda, a redução de investimento internacional na sua produção de gás & petróleo provocou danos à segurança energética regional e mundial, principalmente, após a Guerra da Ucrânia.

Portanto, temos um cenário no qual o pragmatismo político e econômico domina as negociações de reintegração da Venezuela, com a liderança dos países latino-americanos se busca atender não somente os próprios interesses nacionais, mas também àqueles das potências Ocidentais: União Europeia e Estados Unidos.

 

O que você achou desse conteúdo?