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Imagens fortes. Cenas chocantes.
Opinião

Imagens fortes. Cenas chocantes.

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Daniela Nogueira (Foto: OPOVO)
Foto: OPOVO Daniela Nogueira

O aviso parece estar cada vez mais corriqueiro. É só rolar a tela do celular ou parar um pouco diante da TV que a tarja, em preto ou em vermelho, com o "Atenção" em destaque, sinaliza que começará a exibição de cenas trágicas ou imagens violentas (ou ambos). Pode ser também algo que desperte certa dor ou constrangimento ao público. Quase sempre é um acidente de trânsito, uma lesão corporal com luta, atos obscenos ou vítimas feridas ou mortas.

São as imagens do agiota que batia em dois outros, supostas vítimas; do rapaz que, em meio ao incêndio no apartamento, se desespera e quase pula da sacada; do outro rapaz atingido por um aparelho de musculação na academia; do cenário apocalíptico após o incêndio que devastou cidades; e uma série de atropelamentos, de crimes e de outras tragédias.

Por vezes, o veículo jornalístico opta por avisar que as imagens podem apresentar conteúdo considerado sensível ou ofensivo por alguns. Entenda a mensagem que é repassada: não que ele, de fato, seja, mas há a possibilidade de alguém considerá-lo assim. Às vezes, o texto que comunica isso não está acompanhado da expressão "Atenção", mas a imagem embaçada dá o tom de que algo ali pode impactar.

Daí, aqueles segundos, antes de ver as imagens, são decisivos - ou você continua, despertado pela curiosidade de saber o conteúdo, ou para ali, porque, se avisaram, é porque a situação deve ser delicada mesmo. Melhor não arriscar.

É certo que estamos (quase) todos mais sensíveis, após o pico da pandemia de covid-19 e todas as lamentáveis cenas que vivemos e vimos. A impressão é que muitos de nós, ainda inabilmente traquejados, fomos tão expostos ao sofrimento nesse período trágico que optamos por evitar ver mais expressões de dor.

Por outro lado, questiona-se até que ponto o uso de "imagens fortes", "cenas chocantes" e "conteúdo sensível" é feito de modo exagerado pela imprensa a pretexto de justificar a publicação das imagens - apelativas que já são por si mesmas. A veiculação objetiva sempre, jornalisticamente, transmitir a realidade. Não há, no entanto, nenhuma regra universal para o uso de imagens desse tipo, mas possíveis causas da disseminação precisam ser discutidas, mesmo na esteira dos acontecimentos e na quentura do dia a dia do Jornalismo.

Podem ocorrer danos a profissionais e público, pode haver desrespeito a uma família enlutada e pode existir a falta total de necessidade de publicação daquela imagem. n

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