A era da transformação digital trouxe consigo uma nova classe de trabalhadores criativos. São os nômades digitais, indivíduos com habilidades e carreiras que permitem aderir a um estilo de vida sem base de trabalho fixa, utilizando-se de recursos tecnológicos para estabelecerem uma nova dimensão entre viver, trabalhar e morar.
Nesse contexto, o estado do Ceará, conhecido por suas riquezas naturais, cênicas e culturais, e por ser a Meca do kitesurf, tem despontado como um polo atrativo para esses profissionais. E isso implica numa oportunidade singular para a internacionalização da economia do Ceará. Como ouvi esta semana de um arquiteto americano de passagem pela cidade, a região metropolitana de Fortaleza não se limita a receber turistas, mas tem grande potencial de atrair novos moradores para dinamizarem uma nova economia. Isso já está acontecendo, por exemplo, no cluster ligado às energias renováveis, com dezenas de estrangeiros que já moram aqui.
O Ceará tem características que se alinham às necessidades dos nômades digitais. Além da posição geográfica, na "esquina" do Atlântico e com ligações aéreas com Europa, Américas e África a menos de 7 horas, o Estado atrai por seus atributos naturais, mas também antrópicos. Para além da natureza, o Ceará se tornou na última década um ecossistema cada vez mais inclinado à inovação, tecnologia e sustentabilidade, com possibilidades tanto profissionais como de lazer, estadia e entretenimento de longa duração.
Ao optarem por viver no Ceará por semanas ou alguns meses, esses profissionais contribuem para o fortalecimento da economia regional. Além disso, a interação entre os nômades digitais estrangeiros e os talentos locais promove a diversificação de ideias e inspirações, propiciando o surgimento de projetos inovadores e colaborativos e estimulando o empreendedorismo local.
A instituição recente de uma legislação específica nacional, que instituiu o visto temporário e de autorização de residência para nômades digitais sem vínculo de trabalho no Brasil, traz segurança na eventual disputa por mercado de trabalho. No Brasil, é considerado nômade digital o imigrante que, de forma remota ou com a utilização de tecnologias da informação e de comunicação, é capaz de executar no Brasil suas atividades apenas para empregador estrangeiro, podendo permanecer no Brasil por até 12 meses, prorrogáveis por igual período.
Na linha dessa abertura, estado e municípios também têm avançado. Caucaia foi um dos primeiros municípios a tratar do tema, a partir de uma provocação do Hub Cumbuco, um equipamento de inovação social e articulação comunitária ligado ao Instituto Winds for Future.
O município instituiu um Selo "Caucaia Digital Nomads", conferindo toda a infraestrutura necessária para o trabalho remoto de nômades digitais que estejam no município, com suporte em hospedagem, coworkings, cafés, restaurantes e demais estabelecimentos comerciais e de prestação de serviço.
Os nômades digitais representam uma força impulsionadora para a internacionalização da economia no estado do Ceará. A presença deles enriquece a cultura local, incentiva a inovação e promove uma troca de conhecimento sem fronteiras. Lidar de forma adequada com esse movimento global, pode tornar o Ceará um exemplo no acolhimento e integração de nômades digitais e desenvolvimento de um ecossistema econômico e cultural mais vibrante e com mais oportunidades para todos. n