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A imprensa no Setembro Amarelo
Opinião

A imprensa no Setembro Amarelo

Pela complexidade e pelo tabu formado ao longo dos anos, evitou-se, por tempos, abordar o suicídio nas matérias. Não faz mais sentido.
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Daniela Nogueira

Articulista

O suicídio, tema da campanha Setembro Amarelo, que toma conta dos meios de comunicação e muitas instituições neste mês, está dentro da cobertura dos temas sensíveis no Jornalismo, que se une à violência doméstica, ao racismo e à homofobia, por exemplo. Demanda um domínio maior da técnica e exige sensibilidade. Da imprensa, é preciso uma dose maior de atenção a fim de evitar agravamento dos traumas e repercussões trágicas.

Antes de tudo, é necessário falar sobre o tema. Pela complexidade e pelo tabu formado ao longo dos anos, evitou-se, por tempos, abordar o suicídio nas matérias. Não faz mais sentido. Ora, se o Jornalismo existe para informar, por que ignorar o assunto? A questão é como fazer isso.

Há cuidados a serem observados para que a produção e a publicação de matérias acerca do tópico sejam responsáveis. Muitas vezes, essas verificações só ocorrem na esteira dos acontecimentos, mas deveriam existir como rotina cotidiana da formação constante de nós, jornalistas.

Recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) são uma boa indicação para os profissionais da mídia em coberturas sobre o tema. Uma delas é: deve-se evitar usar a palavra "suicídio" nos títulos e nos textos de abre (aqueles resumos logo após o título). Não é necessário esse destaque todo. Ou melhor, nem é indicado noticiar casos de suicídio. Mas, quando envolve pessoa pública ou outra personalidade amplamente reconhecida, que seja publicado observando-se todos esses elementos.

Outra recomendação é que não se publiquem mensagens, cartas ou quaisquer avisos deixados pela pessoa que morreu. Também não é indicado divulgar métodos utilizados. É certo que há uma curiosidade ansiosa do público, vista em muitos comentários nas redes sociais, que quer saber, a todo custo, como a pessoa morreu, de que forma, que método usou. A mídia responsável não divulga isso. Não é de interesse público. Além disso, pode gerar mais problema a quem está vulnerável do que informar quem é curioso.

Possíveis causas não devem ser publicadas, mesmo porque o fenômeno é multifatorial. Nunca existe uma única razão para que ele ocorra.

Lembremo-nos sempre de que, independentemente da morte, de sua possível causa ou da forma, há uma família enlutada e muitas pessoas em situação de risco. Reservar espaço para a discussão do suicídio é necessário. Destacar um tema que, por si só, já é apelativo é irresponsável. Com o Jornalismo e com as pessoas vulneráveis.

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