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Um empate já é derrota
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Fernando Costa é sociólogo e publicitário

Um empate já é derrota

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Quando eu era menino, criança tinha mais medo de polícia do que de ladrão. A farda e a arma, sempre à mostra, faziam calar um bando de moleques fumando cigarros Continental sem filtro, escondidos dos pais, numa esquina da Rua Ana Neri com a Avenida João Pessoa.

Quando me tornei adolescente, o medo se transformou em raiva e pavor pelas fardas e pelas armas, porque eu já sabia de onde vinha o medo e a raiva pelos que usavam fardas nos anos 1970.

O que se chamava de revolução, eu sabia que era um golpe, e o que chamavam de governo militar nada mais era que uma ditadura sangrenta.

Torcer pela democracia no Brasil se assemelha muito a torcer pelo Ceará, o Sporting Club, quando tudo parece que vai dar certo, acaba-se por tomar um gol aos quarenta e oito minutos do segundo tempo.

Mas sobrevivemos, mesmo tendo como o primeiro presidente civil nada mais nada menos que José Sarney, e o primeiro eleito pelo voto direto pós ditatura, Fernando Collor, sem comentários. Quem viveu ou leu sabe de quem se trata e ainda hoje destrata, o verbo é transitivo, mas, no caso dele, se torna intransitivo.

Argentina e Chile, além de outros países da América do Sul, também passaram por ditaduras apoiadas, financiadas e treinadas na prática da tortura pela "maior democracia da terra", tudo documentado e, hoje, publicado para quem quiser e souber ler sem desvios ideológicos.

Mas esses dois países, ao contrário do Brasil, não deixaram impunes os militares que perpetraram crimes contra a democracia. Foram julgados e condenados.

Por isso e outros fatores, em um dia, que mais parecia uma noite sombria, fomos obrigados a ouvir calados o infame Bolsonaro reverenciar, em alto e bom som em pleno Congresso Nacional, o nome abjeto do Cel. Ustra, um dos maiores torturadores que a ditadura pariu.

Hoje, ao serem abertas as caixas de joias do desgoverno, que por negligência acabou por provocar a morte de milhares de brasileiros, nos deparamos com os resquícios das mesmas fardas que se houvessem sido julgadas no passado, provavelmente não estariam repetindo o erro no presente.

O 8 de janeiro é uma data que, com o passar dos anos, pode se tornar mais importante do que o Sete de Setembro, mesmo porque só trocamos Portugal pela Inglaterra. 

Mas como ser democrata neste país é muito parecido com torcer pelo Ceará, precisamos estar atentos e fortes para não perdermos a democracia, mais uma vez, aos quarenta e oito minutos do segundo tempo. n

 

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